Estado precisa priorizar o Ensino Médio

“O Ensino Médio é direito de todos e o Estado deve garantir a universalização dessa etapa escolar”.

Cássia Gisele Ribeiro 

Portal Aprendiz, 03/12/2007

 

A afirmação foi feita pela pedagoga Eleny Mitrulis, durante o I Encontro Educação para uma Outra São Paulo, que aconteceu na capital paulista. Segundo a palestrante, desde a década de 1990 o Ensino Médio passou a ser considerado a etapa final da educação básica, e por isso, tornou-se um direito de todos. “A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996 foi um grande avanço, pois a partir dela todo cidadão passou a ter o direito a freqüentar o Ensino Médio, e por isso, o governo tem a obrigação de zelar por vagas para todos”, disse, lembrando que muitas escolas públicas selecionavam os alunos por meio de vestibulinho.

A pedagoga lembrou que houve grande avanço no país quanto à universalização do ensino fundamental. “Nesse momento, a prioridade deve ser a inserção no Ensino Médio”, disse, afirmando que essa etapa possui várias funções específicas que são fundamentais para que um jovem consiga compreender todos os seus direitos como cidadão. “A inserção no mundo  do trabalho e na carreira universitária, os direitos cívicos, a cidadania e o papel social são fatores que devem ser trabalhados nessa etapa”, disse. Mitrulis criticou o fechamento de 24 escolas de Ensino Médio nos últimos anos em São Paulo (SP). “Se as escolas estão sem alunos por evasão, é preciso dar assistência a elas. Não fechá-las”. Além disso, a localização é um dos fatores determinantes para o baixo número de matrículas em algumas escolas. “Há uma série de fatores envolvidos nisso, a localização é um deles. Por exemplo, quem deve decidir onde serão construídas escolas são os educadores e a comunidade, e não os urbanistas, como muitas vezes acontece”, afirmou. Segundo a palestrante, o Ensino Médio ainda vive um contexto de pouco investimento. “Fecham-se escolas, mas não são abertas outras no lugar”. A especialista disse que um dos maiores desafios é a formação dos professores. “Capacitação deve ser um dos maiores   incentivos para o exercício da docência. Não bastam premiações pontuais para o educador, é preciso que os professores tenham uma formação sólida e sejam cobrados pela realização de um bom trabalho”, defendeu. “Entretanto, a realidade do investimento é contrária a essa necessidade. As escolas estão investindo cada vez mais em projetos sem fundamentação, realizados por voluntários sem formação específica, sem o conhecimento adequado e desamarrados do projeto pedagógico da escola”, disse. “Isso só aumenta a sensação de que qualquer trabalho feito com os alunos, de qualquer jeito, é suficiente. Por que o professor precisaria investir em formação?”, questionou. A palestrante propôs ainda um currículo básico para a orientação dos professores que já atuam na rede pública, aberto às especificidades de cada escola, fortalecendo a formação e propondo contato com um mundo de trabalho mais próximo àquela região.