Escola NE da CUT participa
de oficina metodológica do Proeja Campo em São Domingos-BA
19/10/2011
A Escola Sindical da CUT no
Nordeste Marise Paiva de Morais foi convidada pela
coordenação pedagógica da Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar
da Bahia (FETRAF-BA/CUT) para contribuir na oficina metodológica do PROEJA
Campo, nos dias 17 e 18 de outubro (segunda e terça-feira), no Centro Estadual
de Educação Profissional do Semiárido (CEEP),
localizado no município de São Domingo, região sisaleira
baiana. Construir subsídios para o trabalho pedagógico com o eixo temático
Organização Sindical e Agricultura Familiar foi objetivo principal da oficina,
que reuniu educadores/as do curso técnico em agropecuária integrado ao ensino
médio regular, destinado para dirigentes e militantes sindicais da agricultura
familiar.
O
curso é resultado da iniciativa FETRAF-BA/CUT e Superintendência de Educação
Profissional, no âmbito da Secretaria de Educação do Estado da Bahia, visando
promover o direito à educação para agricultores/as familiares da base sindical cutista por meio do PROEJA – Programa de Elevação de
Escolaridade para Jovens e Adultos, iniciada neste ano.
Trata-se
de uma iniciativa inédita para a realidade das políticas públicas educacionais
no estado e se baseia em dois pilares: a concepção metodológica de Educação
Integral do/a Trabalhador/a, forjada pela Central Única dos Trabalhadores
(CUT); e a experiência concreta do Projeto Semear da FETRAF-BA/CUT, de 2002,
responsável pelo acesso de agricultores familiares ao ensino fundamental.
Alguns egressos do Semear integram a turma do Proeja Campo, o que pode indicar
a dificuldade dos trabalhadores darem continuidade aos estudos no ensino
regular convencional, ainda pouco atento para as especificidades da trajetória
escolar deste segmento social.
Um
dos elementos diferenciais desta experiência está na sua proposta metodológica.
Além da sua dimensão politécnica, que integra dialogicamente os conteúdos do
ensino médio regular aos do mundo do trabalho, o Proeja Campo trabalha em
regime de alternância. Tal perspectiva parte da premissa de que o conhecimento
não é construído apenas em sala de aula, mas também nas vivências dos/as
trabalhadores/as na sua unidade produtiva familiar, na sua comunidade, no seu
sindicato entre outros espaços sociais. Por isso, o curso foi concebido numa
estrutura modular, permitindo aos educandos terem
momentos em sala de aula e outros de pesquisa, estudo e intervenção
comunitária. Com efeito, a realidade é o ponto de partida e de chegada da ação
educativa preocupada em problematizar e provocar transformações na vida social.
Entre
os educandos da turma, encontram-se jovens
recém-ingressos nas fileiras da militância sindical e dirigentes sindicais mais
experientes e que já atuaram nas instâncias da CUT. É o exemplo de Madalena
Firmo, mais conhecida como Leninha, que foi dirigente
da CUT-BA e da Escola Nordeste.
Para a unidade que se inicia neste
mês, o eixo central é Organização Sindical e Agricultura Familiar. O desafio da
coordenação pedagógica e educadores/as se constitui em
conceber uma proposta de trabalho que garanta unidade
formativa ao tratamento do tema nas diversas áreas do conhecimento
(humanas, naturais, exatas, tecnológica e linguagens). Nesse sentido, partiu-se
primeiramente do reconhecimento das experiências dos/as educadores/as sobre o
tema, seguida de uma breve exposição dialogada sobre história das lutas sociais
do campo no mundo e no Brasil e a emergência dos sindicatos de trabalhadores
rurais no contexto do modelo de desenvolvimento urbano-industrial capitalista
brasileiro.
Essa
problematização possibilitou aprofundar o contexto no
qual se forjou a concepção sindical da CUT e da FETRAF, na luta por democracia,
valorização do trabalho, reforma agrária e liberdade e autonomia sindical, mais
especificamente, na década de 1980. Para muitos educadores tratou-se de uma
nova experiência, necessária para compreender o perfil e os desafios
enfrentados pelos educandos da turma do Proeja Campo
na sua trajetória como dirigentes e militantes sindicais nos territórios
baianos, sobretudo, na região sisaleira, onde o
projeto sindical da CUT contribuiu para potencializar o protagonismo
dos trabalhadores na democratização dos sindicatos e na construção de um modelo
alternativo de desenvolvimento centrado na sustentabilidade da agricultura
familiar e convivência com o semiárido, em aliança
com ONGs, Igrejas e outros movimentos sociais.
Os
debates resultaram numa proposta formativa baseada em quatro subtemas, quais sejam: a) as lutas sociais no campo: das
revoltas do campesinato europeu às ligas camponesas
no Brasil; b) origem e concepções sindicais: do corporativismo ao projeto
sindical da FETRAF/CUT; c) comunicação sindical: linguagens, literatura,
textualidade e meios de comunicação; d) projeto alternativo de desenvolvimento:
do modelo urbano-industrial/revolução verde ao desenvolvimento sustentável do
campo. Com isso, pretende-se reconhecer/problematizar a contribuição dos
trabalhadores e das suas experiências de organização sindical para produção de
práticas e saberes socialmente relevantes no decurso do seu fazer-se enquanto
classe social, garantindo a articulação e aprofundamento do saber científico-tecnológico
das distintas áreas de conhecimento.
Nessa
perspectiva, por exemplo, compreender as causas histórico-sociais que motivaram
a Revolução Verde e suas implicações para espaço social agrário é pressuposto
para aprofundar o conhecimento dos/as trabalhadores/as sobre os fundamentos
teóricos que proporcionaram o advento das tecnologias dessa política para o
campo. Isso também possibilitará maior apropriação crítica e consiste das
proposições e experiências alternativas, geradas pela agricultura familiar,
visando à sustentabilidade alimentar, ecológica, econômica e social em torno de
um projeto popular e soberano de desenvolvimento nacional.
A
Escola NE da CUT compartilhou também os Cadernos de Formação do Plano Nacional
de Formação da CUT e indicou vídeos e literatura para subsidiar o trabalho de
pesquisa e elaboração dos planos de aula dos educadores, que contam com a
orientação da coordenadora pedagógica Rosimeire, da
FETRAF-BA/CUT.
Os
trabalhos continuam no CEEP do Semiárido. Em breve a
turma do Proeja Campo se encontrará com as demais turmas de educação
profissional para compartilhar salas, equipamentos, áreas experimentais e
espaços de vivência coletiva.
Fonte: