Diário Catarinense, 02/06/2006 - Florianópolis SC

Ensino médio em questão

Editorial

 

As inscrições para os estudantes que pretendem realizar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2006 terminam hoje em todo o país. O comparecimento à prova, que será aplicada no dia 27 de agosto, é requisito indispensável aos que quiserem postular uma bolsa do Programa Universidade Para Todos (ProUni). Além disso, os resultados do Enem são também utilizados por 470 instituições universitárias do país como um dos critérios usados para a seleção dos que se candidatam às suas vagas. A função original do exame - instituído pelo governo federal anterior - era fornecer um diagnóstico amplo do ensino nacional de grau médio para que se torne possível estabelecer os parâmetros de uma reforma que o qualificasse.

 

Este objetivo parece ter sido esquecido, e os resultados do Enem, hoje, são usados antes para avaliar os estudantes que a ele se submetem com vistas á distribuição de bolsas no grau superior do que para modernizar e aperfeiçoar o ensino médio com vistas às novas necessidades, as do Brasil e as de sua juventude. Se este grau de ensino deu um salto quantitativo durante os anos 90, sua qualidade - como de resto a qualidade do ensino em todos os outros níveis - desabou. Mesmo com o aumento nas matrículas, cerca de 62,5 milhões de brasileiros sequer passaram pelo ensino médio, e entre os jovens na faixa dos 23 anos tão-só 48,6% o concluíram. De fato, a precariedade e a desvinculação do ensino médio fornecido na rede pública com as necessidades de qualificação dos alunos tanto para o exercício da cidadania informada quanto para o mercado de trabalho se evidenciam. Além disso, cite-se a precária infra-estrutura das escolas e a falta de professores - estima-se um déficit de 250 mil no país.

 

Como afirmou o professor e especialista em Educação Magno de Aguiar Maranhão, em recente artigo, o que se percebe é que, na verdade, o ensino médio não cresceu - apenas inchou. "Acolheu milhões de jovens das classes populares, sem prover as escolas públicas com instrumentos para que elas lhes proporcionassem um ensino moderno adequado às suas carências (como acesso a bens culturais e à moderna tecnologia da informação)".

 

Ou seja, a tão propalada "democratização do ensino" não significa tão-só escancarar as portas das escolas e das universidades para todos, sem base no mérito e num processo de "inchaço", sem qualquer compromisso com a qualidade e a realidade. Como se apresenta hoje, o grau médio não cumpre seu papel crucial na formação intelectual e social do jovem para que este aprimore conhecimentos, descubra sua vocação, e desenvolva as competências requeridas para tornar-se um cidadão produtivo capaz de interagir com seu meio de maneira responsável.