Folha de São Paulo, 21/11/2003 - São Paulo SP

Ensino segue desigual no país, revela Enem

Alunos da rede pública voltam a ter desempenho inferior ao da particular na 6ª edição da prova, feita por 1,3 milhão

Luciana Constantino da Sucursal de Brasília

 

Em sua sexta edição, o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2003 reitera o que o resultado de anos anteriores mostrava. O desempenho dos estudantes que concluem essa etapa do ensino é regular, apresentando queda entre os alunos da rede pública, com renda familiar menor e pais com baixa escolaridade. Em números, isso significa que a nota média geral dos alunos na prova objetiva ficou em 49,55 e em redação, 55,36, numa escala de zero a cem. O tema da redação do Enem deste ano foi "A violência na sociedade brasileira: como mudar as regras desse jogo?". Enquanto a média da redação dos alunos que só estudaram em escola particular ficou em 64,44, a nota dos que frequentaram apenas a rede pública caiu para 52,77. Na parte objetiva da prova, com 63 questões de múltipla escolha, a diferença aumenta nota média de 64,21 para os da rede privada e 44,79 para os da pública. As desigualdades são ainda maiores quando é feita a comparação entre os resultados separados por renda familiar e escolaridade da mãe do aluno. Os estudantes com renda familiar de até um salário mínimo tiveram média 37,85 na prova objetiva. A nota sobe para 68,47 entre os que têm renda acima de 50 salários mínimos. Sempre usando a escala de zero a cem. Alunos cujas mães não têm escolaridade ficaram com nota média de 38,8 na prova de múltipla escolha. Para os de mães com pós-graduação, a nota vai a 65,31. Os alunos negros tiveram desempenho inferior, nas duas provas, ao dos brancos, amarelos, mulatos e pardos. "O Enem demonstra que a educação brasileira, especificamente o ensino médio, não tem sido capaz de combater as desigualdades regionais e socioeconômicas", diz o presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), Luiz Araújo. Criado com o objetivo de avaliar o aluno ao final do ensino médio e os que já concluíram essa etapa, o Enem foi feito neste ano por 1,3 milhão de 1,9 milhão de inscritos. A prova não é obrigatória, mas 426 instituições de ensino superior usam o exame como uma forma de seleção dos candidatos. Do 1,3 milhão de alunos que fizeram a prova, só 54 tiraram cem na objetiva e 578 atingiram a nota máxima em redação. Pela primeira vez, dois alunos conseguiram a nota máxima nas duas provas. Nas faixas de desempenho, 35,7% estão classificados de insuficiente a regular (nota de 0 a 40) na parte objetiva da prova e 49,4% de regular a bom (40 a 70). A presidente da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), Juçara Dutra Vieira, diz que houve uma preocupação do governo nos últimos anos em ampliar o número de alunos matriculados sem levar em conta a qualidade do ensino. "O que estamos vendo é uma exclusão dentro do ensino. A criança entra, mas não aprende." Segundo o secretário de Educação Média e Tecnológica, Antonio Ibañez Ruiz, o MEC já adotou medidas para melhorar a qualidade do ensino. Os resultados do Enem são analisados a cada ano, isoladamente, porque a estrutura da prova é modificada. Por isso, diz o Inep, não é possível comparar os resultados de um exame para o outro.