Ensino médio melhora em SP; fundamental fica estagnado

Governo paulista divulga indicador de desempenho das escolas públicas do Estado. Resultado foi comemorado pela administração José Serra (PSDB), mas visto com certa preocupação pelos educadores

FÁBIO TAKAHASHI / EVANDRO SPINELLI DA REPORTAGEM LOCAL

Folha de São Paulo, 19/03/2009 - São Paulo SP

 

Dados divulgados ontem pelo governo paulista apontam que as escolas estaduais do ensino médio tiveram um salto de qualidade em um ano, embora continuem bem longe da meta ideal estipulada pela própria Secretaria da Educação. O ensino fundamental estagnou. O resultado foi comemorado pelo governo José Serra (PSDB), mas visto com certa preocupação por educadores. Os números têm como base o Idesp, indicador criado em 2007 que, a partir deste ano, será usado para balizar o pagamento de bônus por desempenho a professores e servidores. O índice considera o rendimento dos alunos em português e matemática em exame estadual (Saresp) e o número de alunos que se forma no tempo ideal (evasão e repetência). As informações são convertidas em escala de 0 a 10. De um ano para outro, o ensino médio melhorou 38%. O índice subiu de 1,41 para 1,95, mas ainda está bem abaixo da meta de 5 para 2030, que seria equivalente ao de países desenvolvidos.

Por outro lado, ficaram estagnados os ciclos de 1ª a 4ª série (3,23 para 3,25) e de 5ª a 8ª (de 2,54 para 2,60). As metas são, respectivamente, 7 e   6. O governo não divulgou os dados que formam o indicador. Assim, não é possível saber quais pontos melhoraram ou pioraram -português, matemática, evasão ou repetência. A promessa é mostrá-los em abril. "O avanço do ensino médio ocorreu principalmente devido à melhora no Saresp [provas de português e matemática]", afirmou à Folha a secretária da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro. Para a secretária, "os resultados foram muito positivos". Maria Helena destacou o número de escolas de ensino médio que melhoraram (88,2%). "Foi acima das expectativas, porque no país todo o ensino médio é considerado o nível com mais problemas." Uma das ações que surtiram efeito, diz, foram as aulas de reforço no terceiro ano do ensino médio.

Sobre o desempenho de primeira a oitava séries, ela disse considerar um "resultado fantástico, pois mais da metade das escolas melhoraram". Maria Helena diz que fará uma pesquisa com as escolas que recuaram para poder ajudá-las. Avançaram no indicador 51% das unidades de primeira a quarta e 55,8% das de quinta a oitava. Por outro lado, pioraram ou apenas mantiveram o desempenho 49% das escolas de primeira a   quarta e 44,2% de quinta a oitava.

O pesquisador da Faculdade de Educação da USP Ocimar Alavarse afirma ser "preocupante uma estagnação no alicerce de toda a educação [primeira a quarta séries]" -a média da rede não avançou. Para ele, "os resultados indicam que programas como o Ler e Escrever [que prevê material didático especial, capacitação e dois educadores na primeira série] não têm funcionado". Presidente-executivo do movimento Todos pela Educação, Mozart Neves disse que "a melhora no ensino médio é impressionante, com a ressalva de que partiu de patamar muito baixo". "Mas acendeu a luz vermelha para primeira a quarta." O governo não fez ranking das escolas. A Folha tabulou os boletins das unidades da capital. As notas de 55% das escolas de 1ª a 4ª série subiram, mas 58,7% não atingiram a meta de 2008. De 5ª a 8ª, 56% elevaram as notas, mas 42,2% ficaram aquém da meta de 2008. Já no ensino médio 84,6% das escolas melhoraram suas notas e 78,7% atingiram a meta. Colaboraram CATHARINA NAKASHIMA, FELIPE CORAZZA, IGOR GIANNASI e VANESSA CORREA