> Folha Dirigida, 05/12/2006 - Rio de Janeiro RJ

Enem: será que ele passa no vestibular?

Andréa Antunes 

 

Na última segunda, dia 4 de dezembro, milhares de jovens chegaram a metade do percurso que vão percorrer na busca por uma vaga no ensino superior. Com a aplicação das provas do vestibular da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) faltam apenas oito dias de exames, dos 15 previstos na maratona de vestibulares 2007. Os jovens que participam de todos os concursos já se submeteram aos dois dias de exames de qualificação da Uerj, dois dias de provas da UFRJ, um da UniRio, um da UFF e um da PUC. Ainda faltam: dois dias de exames da Rural, um da Uerj, um da UFF, um da UniRio, um da PUC e dois do Cefet. O percurso por uma vaga na universidade poderia ser bem menor se as instituições do Rio seguissem o exemplo da Universidade do Grande ABC (UniABC), de São Caetano do Sul, que substituiu totalmente o vestibular pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Mas o que pensam os principais interessados no assunto sobre esta questão? Será que os vestibulandos aprovam a idéia de trocar os vestibulares pelo Enem? O modelo do exame é melhor do que as provas realizadas pelas universidades? Inscrito em vários concursos (UFF, UFRJ, UniRio e Uerj), Luiz Felipe Nascimento Caetano, 17 anos, acredita que, por suas particularidades, o exame não poderia substituir o vestibular. "O Enem é uma prova única aplicada para o Brasil todo. Então, ele não considera as especificidades de cada região. Por isso, acho que não pode ser uma alternativa ao

 vestibular", avaliou o jovem, que considera a prova do Enem fácil.

"O exame é muito fácil. Acho que não selecionaria bem. Caso fosse adotado, seria necessário melhorar o nível da prova. Além disso, prefiro fazer vários concursos. Apesar de desgastante, acho que dá mais oportunidades. No caso de um exame único, se o candidato não for bem, não há outra chance e tudo estará perdido." Candidato à vaga de Engenharia, Caio Mescouto de Souza, 18 anos, também concorda com o amigo Luiz Felipe. "Acho que como é para todo o Brasil, a prova é muito básica. Por isso, não dá para o Enem substituir o vestibular. Cada estado tem um tipo de ensino. Podemos ver pelo próprio vestibular. Os concursos do Rio são completamente diferentes dos de São Paulo. Então, não dá para fazer uma prova única", diz Caio, que defende a adoção do Enem apenas como parte do concurso. "Acho que o exame poderia substituir a primeira fase da Uerj e da UFF, que apresentam provas similares ao Enem." Para Carla Angélica Gomes Antunes, 18 anos, que faz vestibular para Turismo, o Enem é muito fácil. "Acho que as provas do vestibular e o Enem são muito diferentes. O exame é interdisciplinar e muito básico. Acho que ele poderia ser uma alternativa às primeiras fases dos concursos. Isso já diminuiria bem a quantidade de exames que temos que fazer ao longo do ano", disse Carla, que considera cansativa a maratona dos vestibulares. Outro que defende a adoção do exame como forma complementar ao vestibular é   Pedro Paulo Anunciação  Rodrigues, 17 anos, que pretende fazer o curso de Informática. "O problema do Enem é que a prova é longa. Os textos são grandes e cansativos. Acho que poderiam ser menores." A jovem Marcella Oliveira Piñeiro, 17 anos, também é contra a substituição do vestibular pelo Enem. "Acho que com vários concursos as chances são maiores", disse ela, que também acha o Enem mais fácil do que os exames vestibulares. Mas nem todos são resistentes à substituição do vestibular pelo Enem. Há quem defenda esta opção, como Julia Carolina Ramos Coimbra, 16 anos, que tenta uma vaga nos cursos de Letras e de Pedagogia. "Acho que as universidades deveriam usar o Enem, pois a prova é mais coerente com o que vemos no ensino médio. Os exames vestibulares exigem assuntos que não são abordados em sala de aula. O Enem está mais dentro da realidade do ensino", disse, destacando ainda a dificuldade de se estudar para várias concursos ao mesmo tempo. "Cada concurso tem uma especificidade. Por isso, para cada prova temos uma preocupação diferente. Acho que se fosse apenas o Enem seria bem mais simples." Com a tranqüilidade de quem já garantiu, graças ao Enem, uma vaga no ensino superior, Vinícius Gomes, 17 anos, defende a adoção do exame. "Acho bom as universidades aceitarem o Enem, pois facilita. Fica menos cansativo. Já consegui a classificação na PUC e, por isso, estou menos ansioso com o vestibular."

 

Para ministro, substituição é viável

 

O ministro da Educação, Fernando Haddad, acredita que o Enem pode substituir o vestibular. "Muitas universidades já não aplicam o vestibular e usam somente o Enem para o processo seletivo", disse o ministro, durante reunião ordinária do Conselho Nacional de Secretários de Educação, realizada na semana passada. Criado em 1998, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep), o Enem tem como objetivo avaliar o desenvolvimento do aluno e a qualidade do ensino médio no país. A prova é aplicada anualmente para os estudantes que estão terminando o ensino médio e também para todos aqueles que já

 

 concluíram este segmento de ensino, independente da sua modalidade. A prova é constituída por 63 questões objetivas de múltipla escolha e uma redação.

Este ano, o exame teve recorde de inscritos: 3,7 milhões. Desse total, 2,8 milhões compareceram à nona edição do Enem. O número oficial de inscritos ao Exame divulgado pelo Inep, a partir do fechamento de sua base de dados, foi 3.731.925. De acordo com os dados preliminares divulgados pelo Inep o desempenho dos jovens este ano foi inferior ao do ano passado. Nas questões objetivas, a média ficou abaixo de 38 pontos, em uma escala de 0 a 100, o que   corresponde a um desempenho insuficiente e regular. Na Redação, a média ficou em torno de 52 pontos, no intervalo de regular a bom. No ano passado a média na parte objetiva foi de 39,04 e, na redação, de 55,96. Segundo o Inep, órgão responsável pela avaliação, este ano são mais de 500 universidades de 25 estados e do Distrito Federal, sendo 54 públicas, que aceitam o resultado do Enem. O número é maior do que no ano passado, quando 470 instituições aceitaram o exame como forma de ingresso alternativa ou complementar ao vestibular. A aceitação do Enem pelas universidades é voluntária.