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15/05/2007 - Rio de Janeiro RJ

ENEM: Críticas e elogios, nove anos depois

Joana Martins

 

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi criado em 1998 com o objetivo de produzir ferramentas de auto-avaliação para os estudantes e criar um retrato qualitativo deste segmento no país. Porém, de alguns anos para cá, a prova passou a ser utilizada como forma de ingresso no ensino superior. Mas será que o Enem consegue cumprir bem todas essas funções? Segundo a professora da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e ex-secretária estadual de Educação Lia Faria, o exame atinge os seus objetivos. "O Enem é importante dentro do processo educativo para vermos como está o ensino no Brasil e se ele está de fato alcançando suas metas. Acho interessante também essa perspectiva de mudar um pouco o próprio sistema do vestibular, considerando a formação do aluno da educação básica como um todo", comentou. Já na opinião do diretor-geral do Colégio Pentágono, Paulo Armando Areal, o exame não é suficiente para avaliar 12 anos de formação escolar. Para o educador, a prova poderia ser uma primeira etapa do processo de classificação para o ensino superior. "Não concordo com o fato de um único exame de 63 questões, em que algumasdisciplinas possuem apenas três ou quatro perguntas, seja utilizado para avaliar toda a vida escolar de um jovem. O Enem poderia ser um excelente veículo para fazer a triagem inicial dos candidatos ao ensino superior, como se fosse a primeira fase de um vestibular. Dessa forma, seria ainda possível diminuir a maratona de provas que se cria no final do ano para esse estudante", disse, acrescentando que a segunda fase ficaria a cargo das universidades, que selecionariam os candidatos de acordo com o perfil apropriado.  

Paulo Armando também defende uma maior utilização do Enem por parte das universidades públicas. "Infelizmente, no estado do Rio de Janeiro, somente a UniRio utiliza o exame e, mesmo assim, são poucas as vagas destinadas a ele. O que falta ao Enem é uma participação mais efetiva das principais universidades do estado, como a UFRJ, Uerj, UFF e Rural", afirmou. O educador defende ainda o modelo interdisciplinar adotado pelo Enem. "É uma aposta acertada. A única distorção que vejo é que essa proposta está com a mão invertida, já que ela deveria sair do ensino médio para a universidade e não da universidade para o ensino médio", observou.

Lia Faria também acredita que a escolha deste modelo é correta e inevitável no mundo atual. "A questão da interdisciplinaridade deve estar no projeto pedagógico, pois o mundo é interdisciplinar e a vida também. Logo, esse enfoque é contemporâneo e está de acordo com todas as tecnologias da comunicação e com o intenso fluxo informacional", ressaltou. 

 

Um exame do tamanho do Brasil

 

 Nos dois últimos anos, os resultados do Enem, com as médias alcançadas pelos estudantes – tanto na parte objetiva, quanto na redação – foram divulgados, servindo de avaliação do ensino médio no país. Apesar de não ser obrigatório, o exame registrou cerca de 3 milhões e 700 mil participantes em 2006. Para o diretor do GPI unidade Tijuca, William Campos, o modelo de avaliação do Enem é adequado a todos os estados do país, mesmo que não sejam levados em consideração características e especificidades de cada região. "É uma prova básica de interpretação de texto e de conhecimentos gerais, ou seja, exige um mínimo necessário de conhecimento do aluno, seja ele de qualquer canto do país. Não é um exame específico, para ter que levar em conta as realidades sociais locais. É uma avaliação brasileira para brasileiros", explicou.

A educadora Lia Faria reitera a afirmação de William Campos. "Não temos como fugir disso, pois a questão da educação é nacional. Se pegarmos a idéia de país, Estado, nação, ou seja, de uma identidade nacional, o ensino deve ter um mínimo de conteúdo formativo, que deve ser igual para todos", disse a ex-secretária de Educação do Rio de Janeiro.

Porém, o presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), José Antônio Teixeira, destaca que essa questão deveria ser melhor analisada. "Tenho uma crítica desde a primeira vez que o Enem foi proposto, que é exatamente o fato dele não ser regionalizado. As verdades brasileiras são diferentes em determinadas regiões. A prova não regionalizada vai contra o que a Lei de Diretrizes e Bases para a Educação (LDB) propõe, que é a liberdade de escolha dos componentes curriculares, de conteúdos diversificados e de programações diferentes", enfatizou, reafirmando a necessidade de debate em relação ao modelo atual. "Existem alguns desvirtuamentos do Enem, desde o primeiro momento, e nunca se houve um debate mais técnico e educacional no sentido de produzir melhoras. Penso que devem haver mecanismos de diálogos e de interlocução", destacou o professor. Teixeira também é contra a divulgação do ranking nacional de escolas segundo a classificação no exame. "Para que fazer essa divulgação? O que queremos é qualidade na educação, com as competências mínimas para que esse jovem venha preparado para a universidade ou para o mercado de trabalho", salientou. 

 Um ensino médio deficiente - Os resultados apontados pelo Enem, nos últimos dois anos, não foram nada animadores. Em 2006, o desempenho dos estudantes foi ainda pior do que no ano anterior. A média foi de 36,90 pontos, numa escala de zero a 100, na parte objetiva, e de 52,08 na redação. Em 2005, as médias foram de 39,41 na prova objetiva e de 55,96 na redação. "Os resultados lamentavelmente mostram que há um mau desempenho dos alunos ao final do ensino médio. Mas isso é importante para  ue vejamos quais são os pontos fracos nesse ensino e a partir disso os professores devem trabalhar em prol de melhorias. Acho que, como avaliação externa, o Enem foi uma excelente medida adotada pelo país", acrescentou a educadora Terezinha Saraiva. Para Lia Faria, os resultados apontam uma "tragédia anunciada". "Isso já vinha sendo cantado há décadas e agora está se revelando", disse. "Na medida em que não se cuida da educação, é preciso se preocupar com a segurança pública, com a violência, ou seja, com uma série de questões conseqüentes da falta de oferta de ensino de qualidade", apontou, reforçando a necessidade de uma maior valorização dos educadores. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Inscrições

até dia 15 de junho

 

 

 

 

 

 

 

As

inscrições para o Enem 2007 já estão abertas. Os concluintes e egressos

do ensino médio interessados em fazer a prova devem preencher a ficha

de inscrição nas agências dos Correios ou no site do Instituto Nacional

de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) até o dia 15

de junho. Os estudantes matriculados na rede pública ou particular de

ensino também podem retirar a ficha de inscrição na escola e depois

devem entregá-la em uma agência dos Correios. As

 

 

 inscrições

são gratuitas para os alunos da rede pública de ensino. Já os

estudantes da rede privada deverão pagar uma taxa de R$35, em qualquer

agência dos Correios. Os candidatos que fizerem a inscrição pela

internet deverão imprimir o boleto bancário para efetuar o pagamento do

mesmo. A

prova será aplicada no dia 26 de agosto, contando com 63 questões

objetivas, além de uma redação. O Enem é aplicado uma vez por ano aos

alunos que 

 

 

concluem

o ensino médio. A participação é voluntária, mas a prova é um dos

critérios que permitem a estudantes de baixa renda se inscreverem no

Programa Universidade Para Todos (ProUni), que concede bolsas de estudo

integrais e parciais em instituições de ensino superior privadas. Além

do ProUni, 565 instituições de ensino superior em todo o país também

utilizam, de alguma forma, os resultados do Enem em seus processos

seletivos.