Enem
avança em meio a turbulências
06/11/2011
Após
três anos de transtornos, estudantes veem
melhora e consolidação do exame
Mesmo
com três anos consecutivos de transtornos com o Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem), estudantes aguardam o desdobramento final da edição 2011 com o que lhes
resta: esperança e fé de que "agora vai". "Apesar de tudo, eu
acho que a prova está indo para o caminho certo. Acho que agora vai",
afirma Ana Paula Mendonça Rossi, de 18 anos, aluna do Anglo
Vestibulares. "A confiança no exame está voltando." A
estudante acompanhou de perto os deslizes do Enem. Em 2009, ano em que o exame
estreou o modelo atual e começou a ser adotado como vestibular, a prova vazou e
o exame foi cancelado - naquele ano, a estudante já fazia o Enem pela segunda
vez. "Acompanhei a evolução da prova, desde quando eram 63 questões",
lembra. Problemas com a impressão de provas marcaram a edição de 2010 e, neste
ano, alunos de Fortaleza (CE) tiveram acesso antecipado a questões que caíram
na prova.
Ana Paula participou, no ano passado, do pré-teste do
Enem - de onde as questões vazadas devem ter saído,
segundo indica investigação da Polícia Federal - por causa do método de Teoria
da Resposta ao Item (TRI), há necessidade de pré-testar as questões para
calibrar a dificuldade. "Foi muito seguro e bem elaborado. Até agora não
entendi como aconteceu isso em Fortaleza", diz ela, com experiência de
quem fez quatro vezes a prova. "Gostei muito da prova deste ano, muito
menos cansativa que as anteriores." O aumento de importância do exame a
cada ano - e a consequente falta de opção dos
vestibulandos que pretendem estudar em uma instituição federal - também
colabora com o crédito dos estudantes. Ana Paula quer uma vaga em Engenharia e prestou o Enem por conta da Universidade Federal de São
Carlos (UFScar), que usa o exame como modelo
exclusivo de seleção.
Devagar
- Marcos Eduardo de Aquino Júnior, de 18 anos, também acha que a prova vem
melhorando. "Neste ano, estava mais gostosa de fazer, com questões mais
simples", afirma ele, que está no Cursinho da Poli e quer estudar Física.
Ele também não é um iniciante no exame. Foi a segunda
vez que fez as provas. "Acho que o Enem está crescendo devagar, mas vai indo."
Para o estudante, a prova só vai crescer se tiver investimentos. "Tem
universidades, como é o caso da USP, que ainda não usam o exame", lembra ele. "Daqui uns cinco anos, acho que mais
instituições vão aderir, porque acredito que vão aumentar a segurança e a
qualidade do exame", avalia.
A
educadora e pesquisadora Guiomar Namo de Mello ainda
vê com desconfiança a transformação que o Enem sofreu - de uma prova unicamente
para avaliação do ensino médio para o maior vestibular do Brasil. "O Enem
não nasceu para ser o que é hoje, basicamente seleção de vestibular. Agora tudo
ficou um pouco confuso." Guiomar diz não acreditar que o exame possa
servir de rumo para o ensino médio. "O ensino médio é maior que o
vestibular. Mas o maior pessimismo é em relação ao próprio ensino médio.
Precisava colocar as ideias no lugar e começar uma
avaliação com começo, meio e fim." Justiça - Desde 2009, o MEC já obteve
seis vitórias nos tribunais em relação ao Enem. Ações desde o uso de lápis e
borracha na prova ao pedido de cancelamento.
MARIANA MANDELLI e PAULO SALDAÑA
O Estado de São Paulo - São Paulo SP