Enem tem falta
de padrão na logística
19/10/2011
Coordenadores da aplicação do exame deram 3 versões diferentes para a chegada dos cadernos às salas; Inep diz que regra é uma só A dois dias do início do Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem), informações desencontradas sobre a logística
da prova podem colocar em risco a segurança do processo. Coordenadores de
aplicação de diferentes locais do Brasil relataram três versões de como as
provas sairão da guarda do Exército, onde estão protegidas à espera do exame, e
chegarão às escolas para a aplicação. O Inep,
responsável pela prova, nega divergências. O Estado ouviu nove coordenadores.
Segundo o relato de uma professora que vai trabalhar na cidade pernambucana de
Petrolina, as provas serão retiradas da guarda do Exército pelos coordenadores
no sábado, às 7 horas, e ficam sob a responsabilidade deles até as 10 horas,
quando devem estar nas escolas. "Os chamados ‘chefes de prédio’,
responsáveis por coordenar a aplicação dos exames, estão autorizados a retirar
todos os cadernos de perguntas que serão usados nas instituições em que vão
trabalhar", conta ela. "Daí em diante, o que cada um faz com as
provas, se leva para casa, se deixa no carro, é responsabilidade dele."
São 38 chefes de prédio na cidade. Foi no município pernambucano que, no ano
passado, o vazamento do tema da redação do Enem foi apontado pela Polícia
Federal. Dois professores da cidade de Remanso (BA) teriam tido acesso à prova
e repassado informações ao filho, que fez o exame em Petrolina. O estudante
teve a prova cancelada, mas como o Ministério da Educação considerou o
vazamento um "evento isolado", o exame foi validado.
Horário. A coordenadora de Petrolina, com duas décadas de docência, afirma que
na cidade vizinha Juazeiro, na Bahia, o esquema é o
mesmo. "Ou seja, toda a preocupação do governo federal com o sigilo das
provas fica inútil a partir das 7 horas." As provas, neste caso, só devem
chegar às unidades de aplicação às 10 horas. É diferente do relatado por uma
coordenadora em Aracaju: na capital sergipana, as provas chegam às 7 horas. Em
Araçatuba, cidade paulista a 530 km de São Paulo, a regra é outra, segundo
relato. As provas também devem chegar aos locais do exame levadas por
coordenadores. Uma coordenadora, que não quis se identificar, disse que as
caixas lacradas com as provas chegam ao município e são guardadas em uma sala
comercial alugada, onde ficam até o dia do exame.
O Inep nega divergências no
processo. Segundo o órgão, todo o transporte é feito por funcionário dos
Correios - empresa contratada para a logística de transporte. A versão foi uma
das relatadas por coordenadores de outras regiões do País. Apesar de não
revelar detalhes do procedimento, o Inep afirma que
as regras são idênticas em todas as cidades. Segundo o órgão, o treinamento
teve o objetivo de garantir a padronização. Ao todo, são 435.065 pessoas
envolvidas. Além de fiscais e aplicadores, há coordenadores estaduais,
municipais e de unidade de aplicação. / TIAGO DÉCIMO, CHICO SIQUEIRA, CARLOS
LORDELO e PAULO SALDAÑA
O Estado de São Paulo - São Paulo SP