Enem
pode ter vazado em mais escolas
12/03/2012
O
procurador da República Oscar Costa Filho, do Ministério Público Federal do
Ceará (MPF-CE), disse nessa sexta-feira que os cadernos do pré-teste do Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem), aplicados em 2010, podem ter sido vazados em
outros colégios. As investigações revelaram que em uma reunião ocorrida no
Colégio Santo Inácio, em Fortaleza, a representante da Fundação Cesgranrio contratada para coordenar a a realização do pré-teste entregou os malotes com os
cadernos aos coordenadores de aproximadamente 30 escolas, sem autorização
legal. Nessa etapa, os colégios apenas cedem o espaço físico e os alunos,
ficando a cargo da Cesgranrio aplicar as provas, com
supervisão do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (Inep), órgão responsável pelo Enem. Ao
entregar os malotes aos coordenadores das escolas, abriu-se a possibilidade de
vazamento das questões. Para Costa Filho, agora é preciso saber se o crime se
repetiu em outros colégios. “Como não existia logística para aplicação dos
pré-testes, a representante da Cesgranrio entregou os
malotes aos coordenadores. Temos comprovação de que o Colégio Christus copiou o conteúdo e distribuiu aos alunos. Agora,
precisamos saber se outras escolas também agiram da mesma forma. Vamos pedir à
Polícia Federal que continue as investigações, agora ampliando o foco”, afirmou
o procurador.
Costa
Filho coloca também em xeque o pré-teste aplicado na capital cearense em 2011,
pois não há garantias de que o problema não se repetiu. Para ele, a postura do
Ministério da Educação (MEC) e do Inep foi de
acobertar a extensão real do vazamento. O procurador acredita que o grande
impacto do vazamento dos pré-testes só foi possível porque o Banco Nacional de
Itens não conta com um número mínimo de questões para garantir a segurança do
Enem. Na sua opinião, enquanto esse problema não for
resolvido, não há condições para realização do exame.
“O
MEC e o Inep causaram tudo isso quando insistiram
fazer uma prova sem os requisitos exigidos, como a implementação
de um banco de itens significativo. A quantidade de itens é que dá segurança.
Em um concurso dessa natureza, com essa logística irresponsável, não há como
garantir de que não vai vazar. Mas o vazamento não teria a consequência que
teve se o banco fosse realmente grande.” Na quinta-feira, o MPF-CE denunciou
cinco pessoas pelo vazamento de questões do pré-teste, sendo dois
representantes do Inep, um da Cesgranrio
e dois do Colégio Christus. Os membros do instituto
foram acusados de falsidade ideológica ao negarem ser possível obter os
cadernos de questão. Já a funcionária do Cesgranrio
cometeu crime ao entregar os malotes aos coordenadores sem autorização legal. E
um professor e um coordenador do Colégio Christus
foram denunciados por uso e divulgação indevida do material.
Sem
comentários - Procurado pela reportagem, o Colégio Christus
disse que ainda não tinha sido informado sobre a decisão. Já o Ministério da
Educação (MEC) afirmou, em nota, que não vai comentar a denúncia do MPF pela
imprensa. A representante da Cesgranrio não trabalha
mais para a fundação. Em outubro, alunos do Colégio Christus
confirmaram ter recebido um material que continha questões idênticas ou
parecidas com as que haviam caído no Enem. Segundo a escola, as questões fariam
parte de um banco de perguntas que o colégio recebe de professores, alunos e
ex-alunos para promover simulados. O MEC constatou que a escola distribuiu os
cadernos nas semanas anteriores ao exame, com questões iguais e uma similar às
que caíram nas provas realizadas no Enem e cancelou as provas feitas pelos 639
alunos do colégio.
Correio Braziliense - Brasília DF
Diario de Pernambuco