Enem levanta debate sobre ensino a adultos – 07/05/2009
Pablo Santos
Os resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), divulgados na semana passada pelo Ministério da Educação (MEC), mostraram o difícil caminho que a Educação de Jovens e Adultos (EJA) tem pela frente. As notas obtidas por essas escolas ficaram bem abaixo das obtidas pelo Ensino Médio Regular (EMR), que já foi considerado baixo por especialistas. Enquanto a média do EMR no Estado foi de 48,46 pontos, a nota do EJA foi de 40,75. Para o governo, esta diferença é normal, embora esteja realizando uma série de ações para diminuí-la.
A coordenadora de Ensino à Distância e Continuada da Secretaria Estadual da Educação, Celene Antunes Barreira, diz ser natural que as notas de alunos do EJA sejam diferentes dos demais por causa das diferenças naturais dos dois cursos. “A nota é abaixo do EMR em âmbito nacional por causa das particularidades. (O EJA) é uma forma diferenciada de ensino, que tem um tratamento e uma matriz curricular diferenciados”. Ela comenta que o EJA, como o nome já diz, é de pessoas mais velhas, que têm perspectivas diferentes de vida. “É diferente de um aluno que faz o ensino médio. Para se ter uma noção, os alunos flutuam muito. No início do ano tem um número de matriculados. No segundo já cai bastante por causa de uma série de problemas que os impedem de frequentar as aulas. Não é uma evasão, porque eles voltam”.
Mesmo com toda a dificuldade, Celene acredita que é possível equiparar a qualidade do ensino praticado no EJA com a do ensino convencional. “Acho que não é difícil chegar a esse nível. É possível fazer um projeto diferenciado para esse segmento”. Nesse sentido, comenta a coordenadora, tanto o governo federal quanto o estadual estão tentando se adaptar. Na esfera federal, o governo trabalha com a Agenda Territorial de Desenvolvimento Integrado de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos.
O objetivo do projeto é reunir periodicamente representantes de diversos segmentos da sociedade para trabalhar em conjunto, de acordo com as diretrizes do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), formas de se trabalhar a educação de adultos. A intenção é estabelecer uma agenda de compromissos para o ano, em que cada Estado trace metas para a educação.
Já em Goiás, a Secretaria da Educação está fazendo um levantamento em todas as escolas, ouvindo professores, alunos e gestores. “Estamos fechando o diagnóstico para ter uma posição até junho”, comenta Celene. A expectativa é de se fazer um sistema de oferta e grade curricular específica para os alunos jovens e adultos. “Temos que adequar as aulas à realidade do aluno maduro, que já trabalha. A educação básica está toda montada para jovens e crianças”.
O diretor da escola pública com melhor resultado no Enem na categoria EJA em Goiás, Honorival Fagundes Alves, também acredita que se deve considerar a diferença entre os dois estilos de ensino. “O MEC tem que repensar o Enem e ver que o EJA é outra modalidade. O exame não reflete a realidade das escolas de adultos.”
Há dois anos no Colégio Estadual Santa Bernadete, onde é interventor da Secretaria de Educação, ele diz que revolucionou a escola. “A secretaria afastou o grupo gestor porque a escola estava caótica”, comenta. Ao entrar na escola, que também trabalha com ensino médio, ele tentou definir qual era o objetivo de quem entrava no EJA. “Para que serve o EJA? Para entrar no mercado de trabalho, não é porque eles já estão. Para entrar no vestibular também não. Vamos descobrir então para que ela serve”, teria discutido ele com os professores. A conclusão que chegaram seria a de que os alunos procuravam a escola para aumentar a qualificação no trabalho. O objetivo seria não necessariamente de arrumarem um outro emprego melhor, mas conseguir uma posição melhor onde já estão. O resultado da discussão foi a nota obtida no Enem do ano passado – 46,42, bem próxima da média geral do Brasil, de 48,90, onde foram consideradas as avaliações do EMR e do EJA.
Mesmo considerando a diferença das notas entre o EJA e o ensino convencional, Celene acredita que o ensino de adultos ainda é válido. “Acho que compensa (fazer o EJA). Quando você convive com o pessoal, vivencia a experiência e a diferença que isso faz na vida das pessoas”.
A avaliação condiz com o que diz a costureira Izabel Maria Teixeira, 56, que não fez a prova de avaliação nacional, mas é aluna da “Santa Bernadete”. “É de grande valia (o curso). Ele nos dá um aprendizado grande não só no trabalho, mas diante da sociedade também. O convívio é bom, a gente vê questão de valores, de discussão de ideias. A gente está sempre crescendo, em todos os sentidos”. A revolução provocada pelo EJA é tamanha na vida da costureira que ela já faz planos para quando terminar o ensino médio. “Estava em um impasse, Recebi sugestões para prestar o vestibular de Serviço Social, mas meu filho propôs de fazermos um curso de línguas. Acho que vou fazer o curso com ele”.
Fonte:
http://www.hojenoticia.com.br/editoria_materia.php?id=24129