Enem aumentará mobilidade
Adoção do exame do ensino
médio para seleção de alunos deve provocar uma procura maior pelos cursos e
universidades de melhor conceito no País
Leonardo Spinelli
Jornal do Commercio, 11/05/2009 - Recife PE
Em meio a muita polêmica, com argumentos prós e contras, algumas das principais universidades federais brasileiras adotaram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como forma de seleção de alunos em substituição ao vestibular, um sistema de avaliação considerado inadequado, pois valoriza a decoreba em detrimento do raciocínio, principal contraponto do Enem. Em Pernambuco, a Rural e a Univasf vão adotar o sistema unificado. Ainda há muitas dúvidas sobre a mudança, mas uma coisa é dada como certa: o novo modelo vai aumentar a mobilidade de alunos entre os Estados, de forma que os melhores cursos e instituições vão atrair os melhores estudantes, inclusive com o governo prometendo bolsas para estimular o trânsito. Baseado em dados do Ministério da Educação e num ranking do Guia do Estudante, da Editora Abril, o JC publica as universidades consideradas as melhores do País.
Na prática, qualquer universidade poderá adotar o Enem como processo seletivo de novos alunos. O primeiro passo, no entanto, foi dado pelas federais, seguindo a política do Ministério da Educação. Dessa forma, um candidato que faça a prova do Enem em Pernambuco poderá escolher como primeira opção um determinado curso de outra federal em outro Estado, sem precisar viajar para fazer o teste, desde que as instituições tenham adotado o Enem como única forma de ingresso. Casos como o da UFPE, que terá o Enem como primeira fase e seu próprio vestibular na segunda fase inviabilizam a mobilidade. O mesmo acontecerá nas instituições que utilizarão a nota do Enem para atribuir um percentual na avaliação final dos candidatos e naquelas que vão utilizá-las para vagas remanescentes. Alguns críticos da mudança, não discutem a qualidade do novo método, mas a forma apressada em que ele vem sendo implementado. “Não será precipitado modificar o sistema de seleção de candidatos às vagas das instituições federais de ensino (Ifes) no meio de um ano letivo e com menos de um mês de debate e discussão?”, questiona Fernando Beltrão, professor de um dos mais concorridos cursinhos de biologia do Recife. “Nada, em uma escolinha de bairro, ou colégio, ou universidade muda durante um semestre letivo. As mudanças são sempre aplicáveis em anos vindouros”, considera, para propor outras questões que ainda estão em aberto: “Quantas questões serão aplicadas? A redação será obrigatória? Como podemos acreditar na segurança durante a aplicação das provas?”, indaga.
Outros se mostram preocupados com os efeitos da mobilidade, como a fuga de cérebros para instituições de maior prestígio, e a saída de alunos de cidades mais ricas para regiões pobres, sem a garantia de que esses alunos se comprometam com o local. Em recente declaração, o reitor da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Thompson Mariz, posicionou-se contra a proposta do MEC, dando o exemplo do vestibular de medicina do campus de Cajazeiras, na qual passou apenas um paraibano, sendo o restante dos classificados de outros Estados, principalmente de Pernambuco e do Ceará. O reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Amaro Lins, que é presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), é a favor da mudança, mas defende a correção dos problemas a medida que eles apareçam, como no caso da chamada “fuga de cérebros”. “Essa mobilidade já acontece hoje. Alunos de vários Estados vão para São Paulo, por exemplo, para estudar no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). A seleção unificada vai aumentar o fluxo, a questão é de escala. A questão é: o Brasil precisa disso?”, questiona o reitor, dando uma resposta positiva. “A mobilidade é necessária para o País. O aluno dos grandes centros precisam encontrar com os outros brasileiros, compreender o interior. Em Pernambuco, por exemplo, os estudantes conhecem até Garanhuns, quando vão para o Festival de Inverno.”
Sobre a questão de que o novo sistema vai criar universidades de referência, o reitor diz que no Brasil já existem essas instituições, que são as Federais. “O que teremos de discutir é proteção dos Estados. Não sei qual instrumento poderá ser adotado, se cotas por exemplo, mas temos de discutir para evitar as desigualdades”, comentou. “Defendo que o sistema deve ser colocado e ser discutido ao longo do tempo. Além disso, temos prazo porque muitas instituições não vão entrar no processo unificado este ano. Para Amaro Lins, é natural e interessa a todos que as melhores instituições atraiam os melhores cérebros. “Agora, não podemos achar que o vestibular é o único problema brasileiro. Nosso País tem problemas estruturais, de emprego, de educação básica e o novo Enem não vai resolver todos os problemas.” Colaborou Margarida Azevedo