Enem
atrai quem há muito saiu da escola
20/10/2013
A
quantidade de inscritos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pulou de 4,03
milhões para 7,11 milhões entre 2009 e 2013, mas poucos candidatos extras vêm
direto da educação básica.
Embora
avaliar o ensino médio fosse o objetivo da prova, quando criada, há 15 anos,
77% dos candidatos desta edição já estão fora da escola. Útil para vários
objetivos - como vestibular de instituições públicas, acesso a bolsas em
particulares, diploma de ensino médio e intercâmbio pelo Ciência sem Fronteiras
- a prova tem atraído cada vez mais pessoas fora do grupo de concluintes do
ensino médio.
Com
dois filhos e dois netos, Brivaldo Maciel sequer
passou pelo 3.º ano. Aos 57 anos, vai fazer o Enem para conseguir o certificado
do ensino médio. Motorista de ônibus por mais de 20 anos, parou há dois anos
para poder completar os estudos. Seu sonho é ser aprovado no exame e fazer o
curso de Direito. Se não passar, pretende tentar de novo em 2014.
`Não
tenho problema para desenvolver uma ideia, mas me enrolo com gramática`, reconheceu ele, que divide o tempo entre
biscates e aulas em um centro de educação para jovens e adultos no Recife. Um
dos mais velhos da turma, e ganhou o apelido de `coroa`
e `veinho`.
Mariana
Araújo, de 21 anos, acreditava que a fase de vestibulares havia ficado para
trás quando entrou na Universidade Federal do Espírito Santo, em 2010. A
situação mudou em junho deste ano, quando a jovem, que cursa Engenharia Civil,
soube que o Enem se tornou obrigatório para o Ciência sem Fronteiras, que dá
bolsas a alunos de graduação e pós no exterior.
Sem
opções, após recorrer ao Ministério da Educação e à Justiça, ela fará o exame
para tentar a viagem ao Reino Unido. `É difícil estudar porque tenho faculdade
e estágio. Comecei há poucos dias.` Para ela, as dificuldades são Biologia e
Geografia, que usa pouco na faculdade.
Direto
da escola. Já a estudante Aracelles Medrado, de 16
anos, pretende emendar o 3.º ano do ensino médio com o curso de Medicina em uma
instituição pública. Com o Enem, ela concorre a vagas nas federais de Minas e
Bahia pelo Sistema de Seleção Unificada, além de tentar Unicamp, USP e Unesp, que usam vestibulares próprios. `Os professores dão
dicas sobre cada prova, mas não há tanta diferença em relação a conteúdo`, diz. Nas últimas semanas, tem dedicado duas
horas diárias aos livros, além do dia ocupado por aulas.
Beatriz
Pereira, de 17 anos, preferiu rotina menos pesada. Além de não fazer o pré-Enem
oferecido pela escola, a adolescente tira folga dos livros aos sábados.
Interessada em um curso de gastronomia em instituição privada, acredita que
deve ter menos dificuldades que os colegas que tentam universidades públicas
disputadas. `Ano passado eu fiz como treineira e
tirei boa nota.`
O
caso de Beatriz não é isolado. Com a disseminação de treineiros,
é fácil encontrar veteranos entre quem mal concluiu o ensino médio. Fazendo a
prova pela segunda vez, Antonio Nogueira Neto, de 16 anos, de Altamira, no
Pará, pretende ingressar em algum curso de Engenharia da Universidade Federal
do Ceará, em Fortaleza, onde mora parte da família. Caso não consiga, o jovem
tentará vaga pelo Programa Universidade para Todos (ProUni)
do governo federal, que dá bolsas em instituições privadas.
Dicas.
Na reta final, a especialista em educação Andrea Ramal recomenda fazer edições
antigas do Enem para ficar mais acostumado com o formato da prova. Para quem se
desdobra em vários processos seletivos, ela diz que é preciso priorizar o de
mais interesse. `Mas, de modo geral, se estuda bem para um, está preparado para
os outros`, afirma Andrea.
Fonte:
O ESTADO DE SÃO PAULO – São Paulo, SP