Em defesa da formação profissional

ANDREA RAMAL 

O Tempo, 22/11/2007 - Belo Horizonte MG

 

O desemprego é hoje uma realidade para 18% dos 19,5 milhões de jovens brasileiros entre 16 e 24 anos que podem ser considerados economicamente ativos. É um contingente de 3,5 milhões de pessoas em grave situação de risco social, sem presente e também sem futuro, pois lhes falta a capacitação mínima para fazer parte do mercado de trabalho. O Brasil não pode pretender um desenvolvimento sustentado sem cuidar da inclusão desses jovens, o que exige a execução de um programa consistente para formar técnicos de nível médio. Como a formação profissional não é valorizada no país, os jovens vinculam suas carreiras a um diploma universitário, enquanto faltam técnicos para o mercado real, em processo crescente de modernização e sofisticação tecnológica. Os números retratam uma realidade perversa: 36% dos jovens brasileiros entre 20 e 24 anos concluíram o ensino médio, mas só 4% chegaram à universidade. Os que não conseguiram tendem a engordar a estatística  do desemprego ou do subemprego, pois a escola tradicional já não responde às demandas de um mercado que não se contenta com o profissional capaz de realizar as tarefas descritas com rapidez e correção.

Quem busca trabalho hoje tem de ter sensibilidade e criatividade para usar seus conhecimentos e habilidades de forma a solucionar problemas e agregar valor a produtos e serviços. Algo que só uma boa formação profissional pode proporcionar. Entretanto, a oferta de vagas em escolas técnicas vem caindo. Em São Paulo, por exemplo, as matrículas do ensino técnico representavam 40% das vagas no ensino médio em 1990, mas esse percentual caiu para 14% atualmente. No Brasil inteiro, estima- se em mais de 5 milhões de pessoas o público potencial para formação técnica e qualificação profissional. Esse é o déficit de ensino que envolve diferentes setores produtivos e processos de produção de bens e serviços. Um   programa efetivo de formação profissional deve ser abrangente e diferenciado, com conteúdos específicos para o perfil dos alunos, mas com unidade na proposta pedagógica, assim como nos materiais e recursos utilizados. Acima de tudo, no entanto, deve ser útil ao participante, permitindo que desenvolva as competências necessárias a suas atividades, interfira positivamente no ambiente em que vive e contribua para a construção de uma sociedade mais justa e solidária. Certamente, não é fácil levar adiante um programa consistente para suprir essa deficiência num país com as características do Brasil. Há desafios de grande complexidade a serem enfrentados, como as dimensões territoriais, a dispersão do público-alvo e as diversidades culturais e regionais, além dos diferentes perfis de alunos em relação ao curso básico. Mas o esforço compensa, e não há mais como negar resposta a essa que é uma das demandas mais urgentes do país atualmente.