Em um ano, nota
média no Enem cai em 68% das escolas de elite de SP
12/09/2011
Colégios afirmam que seus melhores alunos não se
inscrevem no exame porque USP e Unicamp não utilizam a nota no vestibular
Mariana Mandelli, Fernanda Bassette
e Alexandre Gonçalves Entre as 50 escolas da cidade de São Paulo com melhor
desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2009, 34 (ou 68%)
tiveram queda nas notas em 2010. Com isso, alguns colégios saíram do ranking
das 30 mais bem colocadas no ano passado. Mesmo o líder na capital, o Colégio
Vértice, teve queda na nota média, de 749,70 para 743,75 pontos - e caiu do 1.º
para o 3.º lugar no ranking nacional. Nesse grupo de colégios de elite, 27
tiveram aumento da participação de alunos no exame de 2010 - o que também pode
explicar uma oscilação na nota. Em cinco foi mantida a mesma proporção de
participantes e em apenas dois houve redução.
Uma das principais justificativas das escolas para explicar a piora no Enem é o fato de duas das principais universidades públicas do
Estado - Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp) - não usarem a nota da prova como critério de seleção no vestibular.
É o caso do Colégio Bandeirantes, que caiu 7,97 pontos.
Segundo o diretor, Mauro Aguiar, os melhores alunos das turmas de Exatas e de
Humanas deixaram de fazer o exame porque, além de darem prioridade para a USP,
não existem muitas opções desses cursos nas federais da capital que usam o
Enem. “É como o time do São Paulo entrar em campo sem o Lucas, o Dagoberto e o Rogério:
mesmo que jogue bem, os melhores jogadores não estão jogando”, diz Aguiar. “A
nota do Bandeirantes ainda se sustenta porque alunos
de Biológicas fazem o Enem por conta da Medicina da Unifesp.”
Na Escola Lourenço Castanho - cuja nota caiu 22 pontos -, a situação é
parecida. “Os alunos preferem o Insper e a Fundação
Getúlio Vargas, além da Fuvest.
Poucos querem federais fora de São Paulo”, diz o diretor Alexandre Abbatepaulo. Ele avalia que a queda na pontuação do colégio
foi muito pequena. Além da preferência por vestibulares que não usam o Enem, os
diretores apontam outros motivos. “Muitos se desinteressaram por conta dos
percalços que a prova sofreu, criando ansiedade e insegurança”, afirma Aleksej Kozlakowski, professor do
Elvira Brandão, que caiu 11 pontos. Peso diferente. Os dois colégios que
tiveram a queda mais acentuada no desempenho foram o Pioneiro - cuja média caiu
55,1 pontos - e o Maria Imaculada, com uma redução de
46,68. Em 2009, o Pioneiro ocupava a 9.ª posição e o Maria
Imaculada, a 11.ª. Agora, eles não aparecem entre os 30 primeiros.
Surpreso, Fernando Isao Kawahara,
diretor do Pioneiro, diz que as turmas são muito pequenas - em torno de 20
alunos -, o que faz as notas oscilarem mais. “Se dois dos melhores alunos
não fazem a prova, por exemplo, a nota cai.” Procurada, a irmã Carmem De Ciccio, diretora pedagógica do Maria Imaculada, não quis
falar sobre o Enem. Três unidades do Objetivo - Paz, Luís Goes
e Cantareira - perderam de 24 a 28 pontos em 2010. Para João Carlos Di Genio, diretor do Objetivo, essa queda “não tem
significância”. “Não tem problema. E a redução dos pontos é de cerca de 4%. A
gente considera normal.” Enquanto isso, o Objetivo Integrado ficou em 2.º lugar
na capital, com pelo menos 70 pontos a mais que outras unidades da rede.
“Evidente que esse está melhor. As aulas são em turno integral e a tendência é
prepararmos alunos para o Enem e os vestibulares da USP e Unicamp.”
PARA ENTENDER - Notas são comparáveis: Esta é a primeira vez que é possível
comparar o desempenho das escolas no Enem ano a ano. Isso porque, em 2009, o
Ministério da Educação adotou a metodologia da Teoria da Resposta ao Item
(TRI), que atribui pesos diferentes a cada questão, dependendo do grau de
dificuldade. Dentro das quatro áreas avaliadas pelo Enem, a média é baseada no
número de acertos, consistência das respostas e na dificuldade das questões
respondidas correta e incorretamente. Assim, a cada ano, as edições mantêm o
mesmo nível de exigência. As escolas têm 30 dias para recorrer da nota, diz o
MEC.
O Estado de São Paulo