Jornal do Commercio,
01/03/2005 - Recife PE
Ensino médio – soluções emergenciais
Mozart Neves Ramos
Reconhecendo a grave crise por que passa o ensino médio em todo o País, pelas razões já expostas anteriormente, o Ministério da Educação criou um Grupo de Trabalho, do qual faço parte, para definir ações emergenciais para atacar o mais grave de seus problemas, excluindo o financiamento: a falta de professores nas disciplinas de Química, Física, Matemática e Biologia. Os primeiros estudos apontam para uma demanda não atendida de 100 mil professores. Por exemplo, em Física, seria necessário que o País tivesse formado, na última década, cerca de 55 mil professores e só formou 7,2 mil. O País não consegue, de longe, acompanhar a demanda crescente por ensino médio, e o pior, o número de professores em processo de aposentadoria supera o número de professores que as nossas universidades e faculdades estão formando. É particularmente chocante observar, com certa freqüência, alunos nos pátios de nossas escolas públicas pela falta de (e não do) professor, pois simplesmente não existe, especialmente em municípios de difícil acesso. E em muitos desses municípios, que antes vislumbravam com remotas chances a conclusão de seus alunos no ensino fundamental, hoje, graças ao Fundef, já começam a ter uma demanda significativa de alunos por ensino médio. Não é à toa que prefeitos, em número cada vez maior, chegam aos gabinetes dos secretários de Educação para solicitar escolas de ensino médio nos seus municípios. Mas, como abrir novas escolas de ensino médio sem professor? Por outro lado, vamos deixar os jovens desses municípios sem perspectivas de continuar os seus estudos, promovendo a migração para os grandes centros, e olhando de braços cruzados os níveis de desemprego e de violência crescerem? Mesmo nessas grandes cidades, ouve-se, com alguma freqüência, alunos dizendo que, durante aquele ano, não tiveram sequer uma aula de Física. O problema é grave e tem tudo a ver com a nossa juventude, por quem devemos pensar com muito carinho e atenção, pois a qualidade do nosso futuro depende dela. Foi pensando assim que o Grupo de Trabalho, instituído pelo MEC, propôs um conjunto de três ações emergenciais para o enfrentamento do problema, após ter levantado a demanda não atendida nestas disciplinas, e o que os Estados estão fazendo para minimizar o problema. Algumas ações são muito próprias de um determinado Estado, face à sua estrutura e capacidade de financiamento, ou mesmo em função de aspectos geográficos. As que se seguem, em nossa opinião, podem ser aplicadas em todo o País. A primeira delas trata da implantação do ensino combinado presencial com telessala para estas disciplinas. Uma idéia simples que pode ser eficaz principalmente para municípios de difícil acesso e distante dos grandes centros universitários. A falta de professores, neste caso, seria resolvida pela presença de mediadores de ensino, devidamente capacitados, que desenvolveriam o processo de construção do conhecimento através de salas multimídia (TV, vídeo e internet) com apoio de material impresso. Uma experiência similar já vem sendo realizada com sucesso em Pernambuco, através do projeto Avançar, que abrange todas as disciplinas do ensino médio e já beneficiou cerca de 60 mil jovens. Além disso, o Sistema de Avaliação da Educação de Pernambuco (Saepe) mostrou que esses alunos têm o mesmo desempenho daqueles do ensino regular.
A segunda proposta tem como eixo de referência a participação dos alunos de graduação de nossas universidades para ensinar nas escolas públicas, neste caso, os municípios beneficiados seriam, em particular, aqueles próximos dos grandes centros universitários. Esses alunos receberiam bolsas de iniciação à docência, semelhantes à de iniciação científica. Além disso, esta atividade poderia lhes valer crédito (carga horária cursada), como atividade de extensão, nos seus cursos de graduação. A terceira proposta envolveria a contratação, na forma de prestação de serviços, de profissionais liberais (engenheiros, biólogos, agrônomos,...) para atuarem no ensino médio. Esta proposta poderia ser particularmente útil para escolas públicas de municípios de médio porte do interior do Estado, cujas oportunidades de trabalho e de remuneração não são semelhantes àquelas observadas nos grandes centros. Temos a clareza da gravidade do problema e sabemos que o enfrentamento do mesmo se dará através de ações estruturais e emergenciais. Se por um lado o governo pensa em cotas nas universidades públicas para os alunos das escolas públicas, por outro, a garantia de ingresso não significa garantia de êxito ao longo do curso, e a qualidade que aí está não é suficiente para um processo exitoso.