Educação profissional
transforma vidas no interior e nas periferias
14/01/2008 13:44:06
Após uma
jornada de trabalho que começou na noite anterior e invadiu a madrugada, o
soldador Vitor Gineitis, 30 anos, chega em casa às 6h, em Não-Me-Toque,
noroeste do Rio Grande do Sul, para um descanso de três horas. Antes do almoço,
embarca no ônibus para Passo Fundo, a 60 quilômetros de distância. O curso técnico
de mecânica industrial tem início às 13h30.
“Vale o
esforço”, resume o estudante, que já tem promessa de promoção no trabalho
quando concluir o curso.
A 4.664
quilômetros dali, em Novo Paraíso, distrito de Caracaraí (Roraima), as irmãs
Marta e Patrícia Souza, de 14 e 17 anos, são as mais novas alunas do curso
técnico em agropecuária integrado ao ensino médio. “Todos os dias, agradeço a
Deus por ter minhas duas filhas estudando numa escola como essa. Até ar
condicionado tem. É muita felicidade”, conta a mãe,
Generosa Ribeiro Silva.
Pequenas
histórias, mas com muito em comum. De origem humilde, sonhos parecidos,
estudantes do interior integram as primeiras turmas das
recém-inauguradas escolas técnicas federais. São 64 novas unidades, que
integram a primeira fase do plano de expansão da rede federal de educação
profissional e tecnológica do Ministério da Educação.
Vitor e mais
166 alunos estudam na unidade de Passo Fundo, norte do Rio Grande do Sul. Lá,
foram investidos R$ 3 milhões em obras, mobiliário e equipamentos.
Cerca de 25% dos alunos são de municípios vizinhos. A escola oferece, desde 1º
de outubro do ano passado, cursos técnicos gratuitos de sistemas de informação
e mecânica industrial. O prefeito da cidade, Airton Dipp, qualificou a nova
escola de marco histórico para o desenvolvimento da região.
Marta e
Patrícia são alunas da unidade de Novo Paraíso, no sul de Roraima. Desde
agosto, a instituição oferece gratuitamente, a 150 alunos, o curso técnico em
agropecuária integrado ao ensino médio. Outros 22 estudantes fazem o mesmo curso, na modalidade jovens e adultos. O governo
federal investiu R$ 3,4 milhões na construção da unidade. Além de Caracaraí, as
cidades de São João da Baliza, São Luiz, Caroebe, Cantá e Rorainópolis são
beneficiadas com a escola. Elas representam um terço do total de municípios do
estado.
Periferia — Na
periferia das grandes metrópoles, as transformações também estão ocorrendo no
dia-a-dia de milhares de pessoas. Paulista de nascimento,
Valeria Cordeiro, 36 anos, casada, mãe de Rafael, 11, sonha em trabalhar
na Petrobrás. Para realizar o desejo, é uma das alunas mais compenetradas do
curso técnico em eletrônica, com ênfase em indústria naval, da unidade de
ensino de Guarus, bairro de Campos (RJ).
O curso,
integrado ao ensino médio, teve início em fevereiro de 2007. Mesmo formada em
magistério, por vontade da mãe, e em contabilidade, por influência do pai,
Valéria tem gostado de reviver as matérias tradicionais. Mas não esconde o gosto pelas novas disciplinas — eletrônica
digital, eletricidade e informática. “Essa área é minha vocação. Adoro estudar,
tanto que minha menor nota foi sete. Aqui, o curso é de ótima qualidade e os
professores são bem preparados”, disse Valéria, exemplo para os colegas, todos
na faixa de 14 a 17 anos.
Valéria trabalhou por seis anos
como auxiliar de escritório, mas depois do casamento e do nascimento do filho,
deixou o emprego. Agora, quer voltar ao mercado de trabalho. Também planeja
ingressar na Faculdade de Engenharia da Automação, no Centro Federal de
Educação Tecnológica (Cefet) de Campos. Ela destaca a importância da nova
escola para a região, que conta com quase 115 mil habitantes, na maioria de
baixa renda. “O bairro sempre foi esquecido pelos governantes. Há um histórico
de descaso. A construção da escola certamente começa a reverter o quadro e
incentivará o estado e o município a olharem para cá”, afirmou a futura técnica
em eletrônica.
Expansão — A
segunda fase do plano de expansão da rede federal de educação profissional e
tecnológica já começou. Os processos de implantação — aprovação de projetos,
licitação e obras — de mais 150 instituições estão em andamento em todos
estados. Serão investidos R$ 750 milhões. As novas escolas vão oferecer, no
início, cinco cursos técnicos de nível médio. A média de vagas em cada escola é
de 1,2 mil alunos. A meta é chegar a 2010 com 354 escolas técnicas e 500 mil
vagas. As escolas oferecem cursos de qualificação, de ensino técnico, superior
e de pós-graduação. As áreas variam de acordo com a realidade regional.
A rede federal
de educação profissional e tecnológica conta com 12.664 professores. Destes,
4.379 têm mestrado (34,5%); 1.130, doutorado (8,9%); 4.748, especialização
(37,4%); 2.209, graduação (17,4%); 177, aperfeiçoamento e 21, pós-doutorado.
Felipe De Angelis
http://www.mec.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=9756&interna=6