A Notícia, 27/03/2003 - Joinville SC

Educação profissionalizante

Francisco Karam

 

Os cursos profissionalizantes do Senai e do Senac tiveram grande valor na evolução de nosso País. Mas são quase uma gota de água no oceano. Formaram milhares de profissionais para os setores comercial e industrial, mas precisamos de milhões. Milhões de operários especializados para transformar a face deste país. Há vagas para empregos, mas não há operários especializados para preenchê-las. Porque não há escolas profissionalizantes suficientes. E cursos técnicos têm uma importância fundamental na construção do progresso. Freqüentemente vemos empresas estrangeiras querendo se estabelecer por aqui - mas não trazem dinheiro. Isso tentam com o BNDES e os governos dos Estados, que dão isenções e benefícios. E quando a empresa está funcionando, os dólares são enviados para o país de origem da empresa. Se tivermos técnicos especializados e engenheiros em grande quantidade, não necessitamos entregar o que é nosso - podemos realizar em nossas fábricas com operários nossos e direção nossa. Mas, para isso, devemos proporcionar educação em massa, em todos os níveis.

 

Estamos vendo todos os dias algumas pessoas "milagrosamente" saídas das  favelas que conseguiram estudar e tornaram-se líderes sociais. Quanto não seria conseguido se houvesse uma educação que atingisse toda população? Mas para isso é necessário muita vontade política e muita energia. Teremos agora?

 

Os coronéis de antigamente ganhavam nas urnas com os currais eleitorais. Mantinham o povo sem escolas e sem educação. O pouco de escolarização que já se conseguiu passou como um vendaval pela maior parte do País, arrastando consigo algumas mazelas da ignorância. Mas há muito a se conseguir ainda, porque a escolarização deve ser maciça, atingir 100% da população. Diz-se que não temos força para nos equipararmos às grandes potências. Mas a educação, elevando o nível intelectual do povo, cria a capacidade industrial e a produção, e com isso a Nação pode erguer sua voz no contexto internacional.

 

E dessa capacidade industrial pode surgir uma reformulação militar de defesa e a força política para ombrear com os grandes do mundo, em plena paz. Só a educação pode aumentar a produção do País, seu poderio político no mundo e sua força militar de defesa.

 

Há o exemplo da França, que, graças à  educação, conseguiu posição de destaque entre as grandes nações. Sua indústria poderosa e seus cientistas construíram uma potência militar pacífica, que é respeitada por todos, sem necessidade de provocar guerras. Ela tem poder militar de defesa que impõe respeito. Em 1697-1698, Pedro, da Rússia, tendo percebido o atraso de seu país por falta de instrução, foi à Holanda trabalhar incógnito como carpinteiro na indústria naval. Foi também à Inglaterra e à Alemanha (Prússia, na época), visitou fábricas e museus. Levou técnicas da Europa Ocidental a seu país e enviou jovens para estudarem nesses outros países. Conseguiu modernizar a Rússia.

 

Nós também, três séculos mais tarde, podemos criar nossos técnicos, dando-lhes estudo aqui e no exterior, e também contratando temporariamente técnicos de outros países para darmos um salto para o futuro.Quando tivermos uma educação profissionalizante que abranja toda a população, como tem a França e a Alemanha, teremos também poder para sentar à mesa em igualdade de condições e reivindicar os mesmos direitos, porque teremos força para isso. Teremos a força poderosa que vem da educação.