Educação
e PAT se unem pela alfabetização na cidade
Haitiano
Ally Pierre passou pelo PAT e conseguiu ajuda no
local. Em Jundiaí, 500 pessoas se formaram pelo programa 'Brasil Alfabetizado'.
01/05/2015
Em agosto de 2004, o jovem Ally
Pierre tinha 15 anos. Idade suficiente para que ele preserve na memória, até
hoje, o dia em que seu país natal, o Haiti, literalmente parou após a invasão
brasileira na capital Porto Príncipe. O exército verde e amarelo, na ocasião,
não precisou dar um disparo sequer para que grupos locais e rivais silenciassem
as armas por um momento, em plena guerra civil que assolava o país.
À frente do batalhão brazuca
estavam soldados de peso como Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo, Roberto Carlos e
outros astros do futebol brasileiro. O dia em que a bala perdeu para a bola
ficou na história do Haiti. Não poderia ser diferente com Ally,
que se encantou com a alegria do futebol em meio à tristeza de um dos países
mais pobres e violentos da América.
Uma década depois, o amor pelo futebol motivou Ally, então com 25 anos, a sair do Haiti. Naquele momento,
o país tentava juntar e colar os cacos de mais um terremoto de grande escala.
Foi a gota d’água para que ele deixasse a mãe e a
mulher no retrovisor de um ônibus. Tinha destino certo: São Paulo. Ally queria acompanhar a Copa do Mundo naquele que, um dia,
já foi chamado de “o país do futebol”. Metade do dinheiro que tinha foi gasto
na viagem. A outra metade foi levada por pessoas que cobravam altas cifras para
ensiná-lo algumas palavras em português. Em plena capital paulista, Ally não conseguiu driblar a malandragem.
Resultado: ficou sem o dinheiro de volta. Após um
curto período em São Paulo, veio para Jundiaí, em busca de emprego,
oportunidade e dignidade. Aqui, encontrou solidariedade em pessoas e entidades
dispostas a ajudar. Após um ano na cidade, conseguiu trazer sua mulher, Wilda. O filho do casal, de 4
meses, tem nacionalidade brasileira.
Ally
era umas das pessoas que circulavam pelo Posto de Atendimento ao Trabalhador
(PAT), na manhã desta quarta-feira (22). O jovem, que fala francês, espanhol e
crioulo, arranha o português com bastante dificuldade. Além dele, outras 9 mil pessoas na cidade, segundo último censo do IBGE de
2010, são analfabetas, o que dificulta, e muito, a contratação para qualquer
posto de trabalho.
“Nós sentimos muito isso aqui no PAT. Além das
pessoas da cidade que não tiveram a oportunidade de estudar, temos uma procura
significativa de estrangeiros, principalmente haitianos, que buscam uma chance
na região por meio do Posto”, constatou Maria Aparecida Gibrail,
coordenadora do órgão.
Mas essa realidade começou a ganhar novos contornos
em 2014, quando o programa federal Brasil Alfabetizado foi instituído em
Jundiaí. Somente no ano passado, 500 pessoas se formaram pela iniciativa, que
funciona como um preparatório para a Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Neste ano, o objetivo da Secretaria de Educação é
aumentar de 25 para 35 o número de salas de aula espalhadas pela cidade. As
inscrições para novos alunos já estão abertas, e, por meio de uma parceria
inédita, podem ser feitas também via PAT. O intercâmbio foi tema de um
encontro, que além de Maria Aparecida, reuniu a gestora e coordenadora do
programa Brasil Alfabetizado em Jundiaí, Solange Longui
e Janaina Ceratti, respectivamente, na sede do PAT.
“Além das escolas municipais, as inscrições agora
poderão ser feitas aqui. O PAT também vai ajudar na
divulgação do Brasil Alfabetizado, o que vai nos ajudar bastante”, garantiram
Solange e Janaina. O processo, elas explicam, ainda aguarda autorização do
Ministério da Educação (MEC) para início das atividades. As aulas estão
previstas para começar em maio.
Será o primeiro passo de uma longa jornada que
aguarda por Ally. Mesmo não tendo concluído o ensino
fundamental em solo haitiano, ele mostra disposição para fazer aquele que tem
tudo para ser o gol mais importante da sua vida.
Para
mais informações sobre o Brasil alfabetizado, os telefones são 4588-5326 ou
4588-5320.