Educação de Jovens e Adultos: um desafio para o século XXI

20.05.2009

 

Alijados dos processos de escolarização, os sujeitos da EJA compõem o universo cultural específico nem sempre contemplado nas propostas político-pedagógicas (FARIAS, 2003, p. 26).

A leitura crítica da autora acima nos remete a vários questionamentos no contexto de uma sociedade global, denominada de sociedade do conhecimento e dos grandes avanços científico-tecnológicos.

Nessa conjuntura, preliminarmente, apresenta-se o perfil heterogêneo do aluno da EJA, como forma de subsidiar a reflexão central desta matéria. Por outro lado, faz-se uma discussão sobre a importância da escolarização formal, na estrutura da formação daquele sujeito que aprende e que tem como paradigma sócio-político a constituição da cidadania coletiva .

Feito isso, nos apropriamos da exposição contida no Documento Base PROEJA (MEC-2006, p. 06), para identificar o perfil do aluno da EJA, “[...] negros, quilombolas, mulheres, indígenas, camponeses, ribeirinhos, pescadores, jovens, idosos, subempregados, desempregados, trabalhadores informais [...]”.

No que diz respeito a esses sujeitos, na relação trabalho-escola, o estudo de Dayrrel (2007, p. 10) destaca que a própria condição de ser jovem somada à pobreza impõe a este contingente social um grande desafio cotidiano, qual seja, “a garantia da própria sobrevivência, numa tensão constante entre a busca de gratificação imediata e um possível projeto de futuro”. Dentro da realidade brasileira isso significa vivenciar o trabalho desde cedo para poder garantir o mínimo necessário para o lazer, o consumo e outras atividades próprias da condição de juventude.

Essa realidade nos afronta com a seguinte pergunta: Como vamos incluir social e materialmente esses sujeitos, numa sociedade de acentuadas práticas tecnológicas?

Porém, antes da tentativa de discutir a temática central (EJA e tecnologias), inserimos de imediato a segunda questão anunciada, que se propõe a discutir a importância da escolarização formal. E assim, na perspectiva dialógica, abraçamos a interpretação do cientista político Ladislau Dowbor (1998, p. 259),

Frente às transformações tecnológicas que varrem o planeta, o mundo da educação permanece como que anestesiado, cortado de boa parte do processo de pesquisa e desenvolvimento, hoje essencialmente concentrado nas empresas transnacionais, e privado de uma visão mais ampla do desafio que tem de enfrentar. A realidade é que, por primeira vez, a educação se defronta com a possibilidade de influir de forma determinante sobre o nosso desenvolvimento.

Situadas as duas questões preliminares, entende-se que as novas tecnologias podem contribuir de forma significativa no processo de escolarização formal dos sujeitos da EJA. Essa convicção está relacionada diretamente ao processo ensino-aprendizagem, pois acreditamos que as ferramentas podem agregar positivamente, em duas frentes:

1 - Na perspectiva pedagógica, as tecnologias podem ser utilizadas como recursos didáticos, que a partir de metodologias diversificadas, podem auxiliar no trabalho docente facilitando os processos de compreensão da realidade, que nos dias atuais, encontram-se ambientados em sites e páginas de busca na internet, tipificados e codificados em linguagens de múltiplas finalidades.

Nesse novo desenho a realidade precisa ser apreendida e desvelada nas suas contradições, daí a importância da mediação do professor, que deve desempenhar o papel de articulador da aprendizagem, sistematizando as informações, transformando-as coletivamente em conhecimentos significativos, desde que contextualizados às potencialidades, e no limiar dos acúmulos (os saberes já existentes) de cada jovem e adulto, visando à inclusão social e à reinserção digna desses alunos, à vida produtiva (dimensão do trabalho).

2 - O caráter político-epistemológico das tecnologias está ligado à apropriação e ressignificação que os sujeitos da EJA podem fazer das informações veiculadas nos “ambientes virtuais”. Entretanto, é fundamental que a escola (professor), via projeto político-pedagógico, saiba a priori, como esse processo de apropriação vai ser integrado/problematizado metodologicamente à vida desses jovens e adultos. Nesse sentido, a função social da escola (professor) é de extrema importância, pois o sucesso ou fracasso da tentativa de emancipar o sujeito, política e cientificamente, deve estar atrelado ao projeto societário da escola (professor), à proposta de formação defendida e praticada, e ao conjunto de valores ético-cultural que estão impregnados na vivência desses sujeitos, ou seja, professores e alunos, pois a escola é resultado da ação de seres humanos.

 

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*Haroldo de Vasconcelos Bentes é professor do Instituto Federal de Educação do Pará - IFPA, mestrando em Educação Profissional e Tecnológica -  UnB.

haroldobentes@bol.com.br

** Ricardo Afonso Ferreira de Vasconcelos é professor do Instituto Federal de Educação do Pará - IFPA, Mestre em Tecnologia do Trabalho - UTFPR.

 

afonsoricardo@gol.com.br

 

 

Fonte:

http://www.ogirassol.com.br/pagina.php?editoria=Opiniao&idnoticia=6518