Disputa acirrada nas campeãs do Enem

13/09/2011

 

Chega a 30 candidatos por vaga a concorrência em processos seletivos das escolas públicas de Minas com alto desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio
Glória Tupinambás Escolas públicas que figuram no topo do ranking de desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) têm em comum mais que a excelência dos alunos, a qualidade de formação dos professores e a boa infraestrutura física. Outra marca forte dessas instituições são os disputadíssimos processos seletivos de estudantes. O resultado do teste, divulgado ontem pelo Ministério da Educação (MEC) e antecipado pelo Estado de Minas, mostra que nas escolas campeãs no Enem a briga por uma vaga é mais acirrada do que no vestibular para todos os cursos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com exceção de medicina. No Colégio Militar de Belo Horizonte, primeiro da capital entre as unidades públicas de ensino e sexto melhor geral do estado, a concorrência chega a 30 candidatos por vaga a cada ano – número três vezes maior que a média total do concurso da UFMG. Com testes de admissão apelidados de “vestibulinhos”, o colégio seleciona estudantes com um diferencial na formação e que, bem preparados ao longo dos anos, ajudam a construir a trajetória de sucesso da instituição. Na última edição do Enem, a escola alcançou desempenho de 715,8 pontos, numa escala de zero a mil. O resultado é composto pela média das provas de redação e de múltipla escolha nas áreas de linguagens, ciências humanas, ciências da natureza e matemática, feitas por 100 alunos do 3º ano do ensino médio em novembro do ano passado. A nota – mais de 200 pontos acima da média nacional (511 pontos) – é motivo de orgulho para estudantes, professores e diretores da instituição.

Hoje no 2º período do curso de psicologia da UFMG, Cristiane Rocha Barbosa, de 19 anos, faz parte do time que prestou o Enem no ano passado e ajudou na conquista da medalha de ouro no pódio do exame entre as escolas públicas de Belo Horizonte. “O lema do colégio é a educação e a disciplina e nós, os alunos, convivemos diariamente com esse sentimento de responsabilidade que vamos levar para a vida toda. O regime militar de cobrança assusta um pouco no início, mas nos dá a tranquilidade de estarmos recebendo uma boa base”, diz Cristiane.

Uniformizado com a farda da escola, André Macieira Braga Costa, de 17, vai fazer o Enem pela primeira vez este ano. Ganhador de uma medalha de prata na Olimpíada Internacional de Matemática, realizada em Amsterdã, em julho, ele sonha em cursar engenharia. “Ainda estou no 2º ano do ensino médio, mas vou prestar o exame nacional como treinante para ir me acostumando. Disputei vaga no Colégio Militar com outros 1.280 candidatos, por isso os vestibulares não me preocupam tanto”, declara André. Segundo a coordenadora do Enem na instituição, professora Soraia Andrade, a preparação para o exame é feita em oito simulados por ano e em várias provas-surpresa a cada semana. “Temos testes não agendados, o que leva os estudantes a estarem sempre preparados e a não deixarem as matérias se acumularem. Essa cobrança, aliada à formação dos professores com mestrado e doutorado e à infraestrutura da escola, nos permite colher bons frutos.”

No Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG), segunda melhor escola pública de BH na lista de desempenho do Enem, a disputa por uma chance em cursos de nível médio também faz inveja aos mais concorridos vestibulares do estado. No concurso do fim de 2010, nada menos que 26,2 candidatos brigaram por cada uma das vagas do curso técnico em meio ambiente. E no Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa (UFV), o Coluni, melhor público de Minas e único gratuito entre os 10 primeiros do Brasil, a relação candidato/vaga chega a 11. Diante da capacidade de seleção dos melhores alunos em “vestibulinhos” nos colégios militares, federais ou ligados a universidades, especialistas em educação alertam para o risco de se comparar o desempenho dessas instituições de ensino com as demais das redes estadual ou municipal. “O estudante matriculado nas escolas que se destacaram no exame passa por uma seleção prévia e só chega ali se tiver uma bagagem intelectual diferenciada. Isso faz dele um diamante mais fácil de ser lapidado. Mas outro ponto forte desses colégios é a presença de uma cultura organizacional e de uma gestão sustentável dos recursos. Isso porque uns dos gargalos nas escolas públicas convencionais é o caráter político da administração”, afirma a consultora em educação e cientista política Erika Nahass.

RESULTADOS Conforme o EM antecipou na edição de ontem, o resultado do Enem 2010 revela a preocupante realidade da educação pública brasileira. Apenas uma escola gratuita – o Coluni, na Zona da Mata mineira – aparece no ranking das 10 melhores do país. Entre as 100 maiores notas, apenas 13 são públicas. Na comparação das duas últimas edições do teste, há um tímido crescimento no desempenho dos estudantes. Segundo o MEC, o crescimento nas notas de alunos que concluíram o terceiro ano do ensino médio foi de 1,9%, o que equivale a 10 pontos. Nas provas de múltipla escolha do teste, o rendimento médio passou de 501,58 em 2009 para 511,21 no ano passado. Minas teve 14% das escolas participantes abaixo da média nacional. Das 340 instituições de ensino mineiras que não atingiram a marca dos 511 pontos, apenas uma é da rede particular.

 

Estado de Minas