Discurso do Presidente da República

Presidência da República

Secretaria de Imprensa e Divulgação

 

Palavras do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na reunião com diretores da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica

Palácio do Planalto, 24 de junho de 2005

 

Eu não ia falar, mas eu vi o microfone aqui e falei: deixa eu dar uma palavrinha.

Primeiro, quero avisar aos nossos companheiros que isso aqui está uma verdadeira Sibéria de gelo.

 

Meu querido companheiro Tarso Genro,

Meu querido companheiro Ibãnez,

Meu querido companheiro Luiz Edmundo Vargas de Aguiar, presidente do Conselho dos Dirigentes dos Centros Federais de Educação Tecnológica,

Senhores e senhoras diretores da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica,

Meus amigos e minhas amigas,

 

Para mim, é motivo de profundo orgulho poder participar de um momento como este. Certamente, o ministro Tarso Genro e a sua equipe, que têm trabalhado com uma ousadia extraordinária e com uma competência ainda mais extraordinária no Ministério da Educação, têm proporcionado com as suas políticas para a educação a esperança de que definitivamente o Brasil se descobriu para compreender que sem investimento na educação nós não seremos nunca o país que já poderíamos ter sido, se há muito tempo atrás tivéssemos priorizado a educação como o pilar mais importante para o desenvolvimento do nosso povo e para o desenvolvimento do nosso país.

 

Eu não sei, Tarso, quantos brasileiros têm a dimensão do que significa a possibilidade de um jovem, sobretudo se ele for pobre, de chegar a uma escola técnica. Possivelmente quem tem a perspectiva de chegar à universidade não tenha essa dimensão primeira que, para muitos, ter uma formação técnica já é o top de linha da sua vida na disputa no mercado de trabalho, para melhorar a sua qualidade de vida.

 

E certamente, Tarso, um mandato de quatro anos ou uma administração no Ministério de três anos, como você está tendo ou, quem sabe, mais anos ainda, seja pouco para a gente poder recuperar o tempo perdido.

 

Eu acabo de voltar da Coréia e saber que aquele país, há poucos anos atrás, era muito inferior – do ponto de vista da sua indústria, do seu conhecimento tecnológico e educacional – ao Brasil. Ver no que se transformou a Coréia, porque acreditou na educação como instrumento para chegar onde chegou, nos leva a afirmar, aqui, que qualquer um poderia ter pensado isso 30 anos atrás, 20 anos atrás, afinal de contas, todas as pessoas que passaram por aqui, no mínimo, tinham um diploma universitário e, portanto, tinham a obrigação de compreender as necessidades de formação técnica da nossa juventude. Mas não compreenderam ou, se compreenderam, não levaram adiante.

 

Como não existe nenhuma experiência no mundo de que a baixa formação cultural e intelectual do povo levou o país a se desenvolver, nós precisamos reconhecer que o Brasil não pode mais discutir o dinheiro da educação como gasto. O Brasil precisa, de uma vez por todas, no pronunciamento dos dirigentes políticos, no pronunciamento dos nossos deputados, no pronunciamento do Presidente da República, do Ministro da Educação, do Ministro da Fazenda e de todas as pessoas, compreender que não existe, definitivamente, nenhum investimento mais sagrado para uma nação do que o investimento na formação da sua gente.

 

Muitas vezes nós deliberamos com mais facilidade um investimento numa indústria, que é necessário, decidir um investimento numa indústria que pode durar dez anos, 15 anos, 20 anos ou pode acabar, e não discutimos com a mesma rapidez um investimento na educação, que tem uma duração infinita, até depois da morte, porque o cidadão bem formado certamente vai passar para os seus filhos, para o seu neto, aquilo que ele aprendeu. Ele vai se transformar, talvez, no professor mais perto, não vai ser à distância nem vai ser na sala de aula, vai ser dentro de casa, a repassar os conhecimentos que ele tem para aqueles que estão próximos dele.

 

Quando nós aprovamos, na semana passada ou há alguns dias, o Fundeb, nós consagramos a idéia de que definitivamente a educação tem que ser tratada com prioridade “um” do nosso país. Para quê? Para que a gente possa sonhar que a nova geração que virá daqui a 15 ou 20 anos tenha a certeza que vai viver num país infinitamente melhor do que o país que nós estamos vivendo hoje.

 

E não é possível fazer o investimento na educação se a mediocridade de alguns entende que contratar um professor é fazer gasto, contratar um técnico para trabalhar na escola é fazer gasto. Na verdade, as pessoas trabalharam a vida inteira neste país querendo governar o Brasil, possivelmente para 30 milhões de brasileiros, para 35 milhões de brasileiros, quem sabe para 40 milhões de brasileiros, e nós temos a obrigação de construir este país e trabalhar para a totalidade do seu povo.

 

Quando criamos o ProUni, nós demos uma demonstração de que muitas vezes não é apenas o dinheiro que conta, mas a criatividade e a inteligência das pessoas. Somente quem esteve no lançamento do ProUni viu o depoimento de rapazes e moças que jamais teriam perspectiva de chegar à universidade porque quando viam o anúncio de universidade no jornal e viam o preço da mensalidade, as pessoas já sabiam, sem medir a sua qualificação, sem medir a sua competência, já sabiam que os números financeiros que elas tinham que dispor as deixavam fora da universidade.

 

Junto com a expansão da escola técnica no Brasil, na verdade, o que nós estamos fazendo ainda não é resolver o problema da educação definitivamente. Nós estamos dando um passo extremamente importante, um passo para que a gente possa, nos próximos anos, avançar um pouco mais. Avançando cada ano, a gente pode, daqui a dez ou 15 anos, ter a certeza de que o Brasil definitivamente decidiu, enquanto nação, apostar que não existe nenhum valor agregado mais importante em qualquer produto deste país do que no valor do conhecimento que a gente der à nossa juventude e ao povo brasileiro.

 

Meus parabéns, Tarso.

Meus parabéns aos companheiros do Cefet e boa sorte.

 

FONTE

http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/acs_lula240605.pdf