Dados de 2012 mostram que AL tem pior índice de alfabetização do BR

Estado possuía 78,2% de alfabetizados; entre os negros, número cai para 76,5% contra 82,5% da população branca

24/06/2015

Número da população alagoana alfabetizada, com mais de 15 anos, está abaixo do índice nacional que é de 91,3% Número da população alagoana alfabetizada, com mais de 15 anos, está abaixo do índice nacional que é de 91,3%

Alagoas tem o pior índice de alfabetização do Brasil. Segundo dados dos Indicadores de Desenvolvimento sustentável (IDS) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), somente 78,2% da população alagoana, com mais de 15 anos, estava alfabetizada em 2012. O índice nacional geral é de 91,3%. Entre a população negra alagoana esse índice cai para 76,5%, também a pior do país, contra 82,5% da população branca. Os números nacionais são 88,2% e 94,7%, respectivamente.

Os números têm o mesmo perfil do rendimento médio da população em 2012. Alagoas tem o valor geral mais baixo do país com R$ 849,00. Entre os negros, esse número cai para R$ 728,00, enquanto que a população branca tem rendimento médio maior que a estadual com R$ 1.154,00. Ou seja, o índice de alfabetização dos negros impulsionam sua renda média para baixo. O que acaba criando mais obstáculos para melhorar sua escolaridade, pois precisam se dedicar mais ao trabalho.

Segundo dados do Governo de Alagoas, retirados do portal Alagoas em Dados, 79,4% da população alfabetizada é maior que 15 anos. Do total da amostra oficial do estado, 18% da população estava analfabeta. Desses, 67,3% tinham mais que 15 anos de idade. Contudo, há algumas diferenças metodológicas em relação aos dados do IBGE. Além do ano referência, que é 2013, o levantamento estadual não trabalha com o recorte de raça.

Outro dado do Alagoas em Dados que chama a atenção é que o número de matrículas no ensino infantil até o fundamental, do 1º ao 5º ano, vem diminuindo desde 2009. Nos anos das amostras do IBGE e do Governo Estadual, 2012 e 2013, a quantidade de matrículas em Alagoas baixou de 426.088 para 420.411. Não há na tabela disponível o recorte por série do ensino fundamental, portanto, não há como saber as matrículas apenas no 1º ano, momento em que a criança termina seu aprendizado em leitura.

Na Educação de Jovens e Adultos (EJA) os números também diminuíram entre os anos de 2012 e 2013, passando de 103.833 para 100.905. Nesse tipo de ensino, muito adultos jovens também aprendem a ler. O estudo dos dados locais oficiais se faz relevante por mostrar um aumento, mesmo que pequeno, no número de alfabetizados, ao mesmo tempo em que o número de matrículas diminui.

GÊNERO

Se o recorte for por gênero, as mulheres são mais alfabetizadas que os homens em Alagoas. Segundo o IDS, 79% delas estavam alfabetizadas em 2012, contra 77,3% deles. Nacionalmente esses índices são 91,6% para as mulheres e 91% para os homens.

A renda média das mulheres alagoanas em 2012 era de R$ 680,00, enquanto que a dos homens era de R$ 1.026,00. Ou seja, as mulheres mesmo tendo mais escolaridade, recebem salários menores.

 

Com pais e avós não alfabetizados, jovem negro conclui ensino médio

O funcionário público Sidinês Silva, de 29 anos, se considera uma exceção. Com pais e avós não alfabetizados, ele conseguiu, a duras penas, concluir o ensino médio e passou em um concurso público.

“A maioria dos meus amigos de infância estão no corte da cana. Para terminar os estudos demorei cinco anos a mais porque sempre estudava metade do ano porque tinha que trabalhar para ajudar na renda em casa”, lembra Sidinês.

Para ele, caso não tivesse concluído o ensino médio e sido aprovado em um concurso público, sua renda seria aproximadamente 30% menor. Hoje o jovem negro é agente de saúde na cidade de Viçosa.

“Lá em casa sempre tinha que pesar a questão financeira com o estudo e o ganha-pão sempre vencia. Por isso sempre tive dificuldade em estudar. Ainda mais com meus pais sem estudo e seus pais, meus avós, na mesma condição. Meu histórico familiar sempre foi de garantir primeiro o dinheiro de pôr comida na mesa e garantir a moradia do que de estudar como meio de melhorar de vida”, relata Sidinês.

Para ele, é preciso haver políticas mais eficazes para manter os jovens negros na escola. Só assim, essas desigualdades vão começar a desaparecer. O ensino técnico, diz ele, é bom até certo ponto, pois estimula que se inicie muito cedo o trabalho. Sidinês acredita que é preciso políticas públicas que retardem a entrada de jovens no mercado de trabalho, assim eles poderão se preparar melhor e escolher uma carreira com mais liberdade.

“Por isso me considero uma exceção. Meus pais não conseguiram estudar. Meus amigos também não. E a maioria dos jovens negros está fadada a seguir a mesma lógica deles. Tenho certeza que se eu fosse branco e com pais e avós alfabetizados, minha história teria sido diferente, com mais escolhas”, afirma.

Para Géssika Costa, recém-formada em Jornalismo, a menor escolaridade dos negros provoca dificuldades em aumento de sua renda que por sua vez dificulta a busca por mais escolaridade.

Esse “círculo vicioso”, como ilustra a jovem, é um problema histórico que não deve ser resolvido tão cedo. Ela destaca os avanços das políticas afirmativas postas em prática nos últimos anos, mas considera que ainda é pouco.

“Isso tudo ainda é pouco e cedo, do ponto de vista da História, para que o quadro atual se reverta. Os negros que estão nas universidades ainda vão demorar para aparecer nas estatísticas. A tendência é que eles passem a ter uma renda mais alta e que também se alterem os números sobre escolaridade”, avalia Géssika.

 

Ela destaca que em sua família, sua geração é a primeira que está conquistando nível superior de ensino. Ao contrário de Sidinês, seus pais e avós foram alfabetizados, mas os que mais avançaram nos estudos chegaram ao nível médio e concluíram um curso técnico.

“Alguns se tornaram funcionários públicos, mas até o nível técnico. Não fosse essa condição, talvez minha geração não estivesse na universidade porque teria que dedicar mais tempo ao trabalho para ajudar na renda familiar”, avalia a jornalista recém-formada.

 

Programa já atendeu mais de 14 milhões de pessoas

Em 2003, o Governo Federal, através do Ministério da Educação (MEC), criou o Programa Brasil Alfabetizado (PBA). Ele é desenvolvido em todo o território nacional, com ênfase em municípios com altas taxas de analfabetismo, que recebem apoio técnico para a implantação das ações do programa.

O PBA já atendeu cerca de 14,7 milhões de jovens e adultos entre os anos de 2003 e 2012. Apenas em 2012, cerca de 1 milhão e 200 mil  pessoas foram atendidas.

Os alfabetizadores são, preferencialmente, professores da rede pública de ensino. Eles recebem uma bolsa do MEC para desenvolverem os trabalhos no contra turno de suas atividades diárias. Contudo, qualquer pessoa com nível médio pode se tornar um alfabetizador. Para isso, basta se cadastrar na Prefeitura ou na secretaria estadual de educação de cada estado do país. A partir daí, uma formação será dada para prepará-lo como alfabetizador. Os valores das bolsas variam de R$ 400,00 a R$ 750,00.

Na última quinta-feira (18), 700 pessoas receberam o certificado de conclusão da oitava etapa do programa em Alagoas na sede da 7ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), em União dos Palmares.

Desde março deste ano, 830 pessoas foram certificadas na 2ª e 8ª CREs e sistema prisional. A estimativa da Secretaria de Estado da Educação (SEE) é que até julho, este número chegue a 10 mil pessoas.

 

Fonte: http://www.tribunahoje.com/noticia/146143/educacao/2015/06/24/dados-de-2012-mostram-que-al-tem-pior-indice-de-alfabetizaco-do-br.html