Estado de Minas, 01/06/2004 - Belo
Horizonte MG
Curso médio integrado
Mudança facilita o trabalho das escolas, que poderão continuar
oferecendo cursos separadamente
Francis Rose
Um decreto que deve ser assinado esta semana, em Brasília, vai alterar a oferta da educação profissional no País. Pela nova proposta, as escolas poderão oferecer o curso médio integrado ao curso técnico. A medida revoga o decreto 2.208/97, que impede que os dois cursos funcionem articulados. Atualmente, os estudantes podem fazer os dois cursos em escolas diferentes ou na mesma instituição, desde que efetuem duas matrículas. A maior dificuldade é conciliar horários e, caso os cursos sejam ministrados em locais diferentes, administrar o deslocamento.
Com a mudança, a grade curricular e os horários vão funcionar integrados. A mudança facilita o trabalho das escolas, que precisarão fazer um único registro escolar do aluno. Além do curso integrado, as instituições podem continuar oferecendo os cursos de forma separada, o que dá ao aluno a possibilidade de escolha. "A reforma feita no governo passado causou muita polêmica ao separar o ensino médio do técnico. Essa desvinculação acabou por priorizar o ensino pós-secundário", explica o coordenador geral de Políticas da Educação Profissional e Tecnológica da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do MEC, Francisco Danna.
Ele explica que muitos alunos optaram por não fazer um curso técnico, dando prioridade ao ingresso no ensino superior. "As escolas técnicas têm servido como um trampolim para a universidade. O mercado precisa dos técnicos, que podem ajudar no desenvolvimento regional", afirma. "Não adianta termos muitos profissionais com graduação se não há mercado para absorvê-los. Isso acaba exigindo que as pessoas deixem suas regiões para buscar oportunidades em grandes centros. Nos países desenvolvidos, há um profissional pleno (com graduação no ensino superior) para cada cinco técnicos. Os brasileiros querem entrar na universidade, mas historicamente não é disso que o mercado precisa." Os ensinos médio e técnico desarticulados trazem dificuldades principalmente para os alunos que fazem a concomitância externa. Ou seja, fazem ensino médio em uma escola e técnico em outra. "Ter horários compatíveis e se locomover de uma escola para a outra são coisas difíceis", lembra Danna.
Atualmente, alunos que fazem os cursos médio e técnico de forma concomitante estudam durante três anos, em dois turnos. Com o decreto, o curso passará a ser de quatro anos, provavelmente nos dois turnos, mas com uma carga horária mais leve. "As escolas devem se adaptar ao novo decreto a partir do ano que vem. No entanto, oferecer o curso integrado não é obrigatório", esclarece Danna.
• Mudanças são aprovadas
As instituições que oferecem cursos técnicos e profissionalizantes aprovam as mudanças do novo decreto. "Com a reforma da educação, no governo passado, os cursos foram separados e os alunos, obrigados a fazer duas matrículas, mesmo estudando na mesma escola", lembra o gerente de educação e tecnologia do Senai, Edmar Alcântara. "Nesse período, percebemos uma queda no número de alunos buscando os cursos técnicos. Muitos viram o ensino superior como a única saída", explica. No sistema Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais), os alunos cursam o ensino médio no Sesiminas e se profissionalizam, de forma concomitante ou não, no Senai. "Com a separação em dois cursos, muitos alunos desistiram do ensino técnico, optando apenas pelo ensino médio. Deslocar de uma unidade para outra e estudar oito horas por dia não é fácil. Para a escola, a burocracia dobrou. Antes de 97, como o curso era único, apenas uma secretaria controlava a escrituração escolar", lembra. Edmar acredita que o curso integrado só deve ser oferecido a partir do ano que vem. "A unificação vai facilitar a matrícula. Esperamos um aumento na procura pelos cursos técnicos. De qualquer forma, vamos manter a opção dos cursos separados", explica. Ele afirma que o tempo de duração do curso integrado ainda é uma polêmica. Com a articulação, a carga horária é reduzida. "Em termos de conteúdo, no entanto, o estudante não perde nada. Ele verá as matérias tradicionais, enxergando a aplicação que elas têm", defende.
O diretor de ensino do Cefet, em Belo Horizonte, Eduardo Coutinho, garante que o novo decreto é fruto de muitas discussões. "Já começamos os entendimentos no Cefet para saber como o curso será ofertado. Hoje, o aluno estuda em dois horários, com 44 ou 50 horas semanais. Com a integração, ele vai continuar estudando em dois horários, mas talvez a carga horária possa ser reduzida", adianta. No Cefet, a concomitância interna (quando o aluno faz o curso médio e técnico conjuntamente, porém de forma desarticulada) deve ser extinta. "O aluno não vai perder. Ganharemos em qualidade e também no sistema operacional", lembra. DÚVIDAS Os alunos ainda não compreendem as mudanças com clareza. "O curso integrado vai facilitar, acabando com a necessidade de que o aluno se desloque de uma escola para a outra. No entanto, acho que mexer na grade não é uma boa, porque certamente perderemos alguma matéria", opina Ana Carolina Luiz e Silva, de 17 anos, que cursa o ensino médio numa escola pública em Matozinhos, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e o 3º módulo de técnico em eletrônica no Cefet.
Talita Nunes, de 18, faz concomitância interna no Cefet. De manhã, ela faz o 3º módulo do curso técnico de turismo e lazer. À tarde, o 3º ano do ensino médio. "Fiz duas matrículas e fico o dia todo na escola. Acho que o curso integrado é pior. Se o aluno desistir da parte técnica, como fica?", questiona. Thiago Fonseca, de 16, cursa o 2º ano do ensino médio no Sesi Emília Massanti e aprendizagem eletroeletrônica, que é um curso profissionalizante, no Senai. "É corrido e puxado fazer as duas coisas, mas o mercado está muito exigente. Por isso, todas as chances de ter um currículo diferenciado devem ser aproveitadas", afirma. Arthur Marques, da mesma idade, cursa o 2º ano no Sesi Alvimar Carneiro de Resende e faz aprendizagem de eletroeletrônica no Senai. "Decidi cursar as duas coisas porque o mercado está exigindo muito", diz Arthur.