Cresce número de adultos na
escola; investimentos recuam
28/6/2008 20:24:00
JORNAL O DIA
Segundo o MEC, matrículas de estudantes
em Educação de Jovens e Adultos cresceram 344% nos últimos 10 anos só no Ensino
Médio da rede pública, mas investimentos estão estagnados
Daniela
Dariano
Rio - Vergonha, falta
de tempo e de dinheiro e o cansaço após uma longa jornada de trabalho. Vencidos
esses obstáculos, alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) têm mais um
desafio pela frente: superar a precariedade do ensino nas escolas públicas
brasileiras. Enquanto cresce o número de estudantes que tentam correr atrás do
tempo perdido, os investimentos nesse segmento recuaram. E os reflexos estão
nas salas de aula.
Nos últimos 10 anos, só no Ensino Médio o
aumento de matrículas foi de 344%. Na rede municipal do Rio, por exemplo, o
número de alunos, de 1998 até este ano, aumentou 764%. O Ministério da Educação
(MEC) estima, porém, que, de
Na prática, o valor pode ser ainda menor,
pois a estimativa é distorcida, calculada como se o aluno de EJA representasse
o mesmo gasto de um aluno do ensino regular. Para o Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação Básica, no entanto, um estudante de EJA equivale a
0,7 de outro aluno. A rede estadual do Rio reduziu os gastos com EJA, de cerca
de R$ 9 milhões liquidados em 2002, para R$ 1,2 milhão em 2005.
Na sala de aula, os alunos penam, sem
recursos, sem material didático apropriado, laboratórios e, muitas vezes, com
professores sem a formação adequada. Professora de prática e teoria de
alfabetização, Ilana Cardoso de Gouveia, do Instituto
de Educação Clélia Nunce,
Não é de estranhar que os estudantes
tenham desempenho pífio. Os resultados de EJA na rede pública do Rio no Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2007 foram ainda
piores do que os do ensino público regular. Aluna da escola com pior desempenho
do Rio em EJA — o Colégio Estadual Maurício de Medeiros, no Méier, que tirou
nota 35,53 numa escala de
Para Maria do Socorro, 59 anos, o tempo
de escola passou. Ela se formou no Ensino Médio no ano passado, no Colégio
Estadual Antônio Maria Teixeira Filho, no Leblon. O diploma é orgulho da
diarista. Embora ainda mal saiba escrever, ela planeja — e, com o curso
completo, ela pode — tentar ingressar numa universidade.
INVESTIMENTO:
ENSINO MELHOR
O bom desempenho de alunos do ensino
regular da rede privada diante dos matriculados em colégios públicos se repete
quando o assunto é a Educação de Jovens e Adultos. De acordo com resultados do Enem, a média de estudantes em EJA da rede pública do País
ficou em 41,150 pontos contra 48,612 pontos daqueles inscritos em projetos da rede
privada.
No Rio, colégios tradicionais como Santo
Inácio, em Botafogo, e São Vicente de Paula, no Cosme Velho, abriram as portas
dos cursos noturnos há mais de três décadas. O Companhia
de Maria, no Grajaú, também faz o mesmo desde 2001. As aulas fazem parte de
projetos sociais para pessoas de baixa renda e são gratuitas.
Com 1.310 alunos, o Santo Inácio oferece
desde a alfabetização até o fim do Ensino Fundamental. Quem quiser pode
participar ainda de cursos profissionalizantes em Administração, Enfermagem e
Patologia Clínica.
A qualidade do ensino, condições dignas
de estudo e professores capacitados deram novo ânimo à doméstica Maria Raimunda
Viana da Silva, 57. “Fiquei 12 anos com uma patroa que me dava até plano de
saúde, mas não queria que eu estudasse. Deixei o emprego, estava na hora de
cuidar de mim”, disse Maria. No Companhia de Maria,
Aline Santos, moradora do Morro do Andaraí, foi aprovada no curso de Pedagogia
de UERJ, UFRJ e UFF.
Ausência
de transparência sobre gastos
O MEC admite não ter controle sobre os
gastos municipais e estaduais com o Programa de Educação de Jovens e Adultos
(Peja). A Secretaria Municipal de Educação do Rio não disse quanto gasta com o
programa. Limitou-se a informar que “os recursos destinam-se ao atendimento das
demandas de todos os segmentos de acordo com o planejamento anual elaborado
pelos órgãos”.
Já a Secretaria Estadual de Educação
afirmou que o investimento é proporcional ao número de alunos. Para este ano, o
planejamento de recursos para merenda e manutenção das escolas de regime
presencial de EJA totaliza R$ 2,246 bilhões. Presidente da Comissão de Educação
da Alerj, o deputado Comte Bittencourt observa, no entanto, que apenas 10% dos
recursos previstos no Orçamento deste ano para EJA foram aplicados até agora.
Fonte:
http://odia.terra.com.br/educacao/htm/cresce_numero_de_adultos_na_escola_investimentos_recuam_181660.asp