09/08/2011
Associação de pais irá à Justiça e pedirá ao Ministério da Educação adiamento
das provas marcadas para outubro, alegando prejuízo de alunos das escolas
afetados pela greve
Flávia Ayer e Guilherme Gouveia Os professores da
rede estadual de Minas Gerais pode interferir no Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem). A Federação das Associações de Pais e Alunos de Escolas Públicas de
Minas Gerais (Fapaemg) promete entrar com ação na Justiça
para tentar adiar a data da prova, principal porta de entrada no ensino
superior no Brasil. De acordo com o presidente da entidade, Mário de Assis, os
mais de dois meses de paralisação já teriam prejudicado, de forma decisiva, a
preparação desses estudantes para o Enem. Mais de 6,2 milhões de candidatos
estão inscritos no exame, marcado para 22 e 23 de outubro.
Na próxima semana, Assis irá protocolar no Ministério de Educação (MEC) e na
Presidência da República, em Brasília, uma carta expondo o problema. Ontem,
grupo de alunos do Instituto de Educação de Minas Gerais promoveu manifestação
cobrando o retorno às aulas. Sem classes há 63 dias, cerca de 50 deles saíram
em passeata da escola, na Rua Pernambuco, até a Praça Sete, ambos no Centro.
Pais e alunos voltam suas atenções hoje para duas frentes: a reunião no pátio
da Assembleia Legislativa, no Bairro Santo Agostinho,
Região Centro-Sul de Belo Horizonte, em que o Sindicato Único dos Trabalhadores
em Educação de MG (Sind-Ute/MG) reavalia se mantém a
paralisação, e um possível pacote da Secretaria de Estado da Educação (SEE). A expectativa
é de que sejam anunciadas medidas do governo para reduzir o prejuízo dos alunos
afetados. Entre as ações previstas, se o movimento grevista não acabar, estaria
a contratação de professores substitutos.
Durante todo o dia de ontem, representantes da pasta ficaram reunidos para
definir as ações a serem adotadas. De acordo com a secretaria, 2% das 3.779
escolas estaduais de Minas estão totalmente paralisadas e 16% delas
parcialmente sem aulas. Já o Sind-Ute/MG fala de 50%
da rede de educação do estado parada. No fim de semana, a secretária estadual
de Educação, Ana Lúcia Gazzola, qualificou o
movimento como “intransigente e nitidamente político, para causar constrangimento
ao governo”. Ela afirmou que fará “tudo o que a lei permitir” para garantir a
recomposição do ano letivo de 200 dias. A coordenadora geral do Sind-Ute, Beatriz Cerqueira, diz que faltou diálogo.
“Ficamos seis meses aguardando uma negociação do piso salarial”.
PREOCUPAÇÃO - Focada para conseguir uma vaga nos cursos de direito ou gestão
pública na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a estudante do 3º ano
do ensino médio Marisa Oliveira, de 17 anos, uma da presentes
na manifestação de ontem, vive na pele a apreensão. “Sem aulas, ficamos
completamente desamparados. É um descaso muito grande tanto dos professores
quanto do governo”, desabafa Marisa. “As turmas que mais precisam não têm
aulas. Como vamos fazer se a concorrência com outras escolas por uma vaga na
UFMG já é desleal? Agora, o sonho de entrar em uma universidade pública fica
mais distante”, afirma Marina Martins, de 17, candidata ao curso de comunicação
social.
O presidente da Fapaemg, Mário de Assis, afirma que,
com a greve, os estudantes inscritos no Enem já estão em desvantagem em relação
aos demais candidatos. “Na última prova, no ano passado, quando também houve
greve, o desempenho deles já foi muito ruim. Vamos entrar com uma ação para
adiar a prova para defender essas crianças.” Prevendo o pior, as amigas Nayara da Silva e Gabriela Teixeira, de 16, e Izabela Catella, de 17, decidiram
se matricular em um supletivo, caso a paralisação não termine nesta semana. “Do
jeito que está, o ano vai acabar sendo cancelado, e
não temos condições de desperdiçar tempo por um problema que não causamos”, diz
Gabriela. O protesto foi organizado por alunos do ensino médio do Instituto de
Educação pela rede social Facebook. Durante o
percurso até a Praça Sete, o trânsito ficou complicado e motoristas reagiram
com buzinaço e gritos. De acordo com a Secretaria de
Estado da Educação, alunos das escolas públicas estaduais conquistaram um terço
das vagas do Enem na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).~
Estado de Minas