Copo do ensino médio está vazando

ANTÔNIO GOIS DA SUCURSAL DO RIO

Folha de São Paulo, 10/06/2009 - São Paulo SP

 

A explicação para a crise do ensino médio, desta vez, não poderá recair sobre os suspeitos habituais: pobres que, uma vez incluídos, puxam as médias para baixo por causa de seu nível socioeconômico. Desde 2003, tanto o censo do MEC quanto a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE, indicam que as matrículas neste segmento estão estáveis -com viés de baixa- entre 8 e 9 milhões de alunos. A estabilidade seria boa notícia caso estivéssemos próximos da universalização do ensino entre jovens. Mas, nos últimos cinco anos com dados disponíveis, o percentual de brasileiros entre 15 e 17 anos fora da escola estacionou no inaceitável patamar de 18%. Usa-se muito o batido clichê do copo meio cheio e meio vazio na análise de quase todos os indicadores brasileiros.  De fato, ver apenas o copo meio vazio é injusto com um país que, como o Unicef destaca em seu relatório, tem avanços a mostrar, especialmente no ensino fundamental. Mas olhar só o copo meio cheio seria um exercício tolo de otimismo, pois ainda há muito a fazer. Mais importante, no caso da educação brasileira, é olhar o movimento e sua intensidade. É por isso que o ensino médio preocupa. Neste segmento, o Ideb (índice de qualidade do MEC) não avançou, paramos de incluir os mais pobres e a reprovação aumentou. É como se o copo, em vez de encher, estivesse vazando. E pioramos justamente num dos mais vergonhosos indicadores educacionais do país: as taxas de reprovação. No caso, não cabe perder tempo com o falso dilema entre aprovar automaticamente quem não aprendeu ou reprovar como punição. Em primeiro lugar, há farta evidência de que a repetência não melhora o desempenho. Além disso, trata-se de uma discussão restrita ao ensino fundamental, pois são poucas as escolas com ciclos no ensino médio. Por último, para quem ainda insiste em defender a reprovação como política educacional, uma visita à página de estatísticas da Unesco mostrará que, de um conjunto de mais de 150 países comparados na educação secundária, apenas oito apresentam taxas de repetência superiores à brasileira. Com todo o respeito a nações como Togo, Congo, Burundi ou Níger, qualquer indicador educacional que nos aproxime desses países é evidência incontestável de que algo está realmente muito errado.