Conteúdo desconectado da realidade é uma das causas da evasão do Ensino Médio

Portal Aprendiz, 10/11/2008

Bruna Souza 

 

“Não é a atração pelo mercado de trabalho que afasta os jovens do Ensino Médio, mas sim a repulsa que a escola causa”. A afirmação é do presidente do Conselho Consultivo da Faculdade Pitágoras – integrante de uma rede particular de ensino -, Cláudio de Moura Castro. O dirigente participou do seminário “A crise de audiência no ensino médio”, na última semana em São Paulo (SP). “As orientações e expectativas que o Ensino Médio oferece são muito vagas”, completou. De acordo com Castro, o Ensino Médio tem pouca ênfase nas habilidades práticas. “A tradição de decoreba é um dos fatores que espanta os alunos, mas o nível de escolaridade dos pais e a formação dos professores, que não se conectam com a realidade dos alunos, também colaboram com o fenômeno de evasão do Ensino Médio”, alertou. Segundo dados do Censo Escolar do MEC de 2007, dos 3,6 milhões de jovens que se   matriculam no Ensino Médio, apenas 1,8 milhão concluem. A taxa de abandono é de 13,3%, contra 6,7% de 5ª a 8ª séries e 3,2% de 1ª a 4ª séries.

Para o presidente do Instituto Alfa e Beto – organização não-governamental que trabalha na área da educação –, João Batista de Oliveira, uma das causas do grande abandono do Ensino Médio é o conteúdo voltado para o vestibular. “Hoje, um bom Ensino Médio gira em torno do vestibular. Devemos romper essa conexão e aproveitar a energia do jovem para o que realmente interessa para ele, que não necessariamente é o vestibular”, alertou. “Penalizamos nossos jovens com um sistema igual para todos, que não dá escolha para que os alunos estudem o que mais lhe interessam. Devemos diversificar o Ensino Médio de acordo com as necessidades do mercado de trabalho,   sugeriu Oliveira. Outro aspecto levantado na mesa foi a formação dos professores. “Não é só a crise de audiência que precisa ser observada, mas também o que está em torno dela. Os cursos de Pedagogia não têm formado bons profissionais”, disse o diretor de Concepções e Orientações Curriculares para Educação Básica (SEB/MEC), Carlos Artexes Simões. “A escola está inserida em uma sociedade que também deve mudar. Não basta pensar escola para dentro, temos que pensar escola para fora”. Um dos consensos da mesa é que o Ensino Médio só terá sucesso quando as questões práticas estiverem atreladas à educação. Para isso, uma das formas é dar mais poder de escolha aos jovens quanto aos seus interesses futuros. “Ensinando a consertar um automóvel, por exemplo, é que o jovem aprende matemática, física, desenho. O conhecimento termina na cabeça, mas é pelas mãos que ele entra”, finalizou Castro.