“Construímos uma nova
história”
Com alfabetização de adultos, usinas
transformam vidas em AL e RJ
15/08/2014
A rotina em Campos dos
Goytacazes, RJ, não é mais a mesma desde que a Coagro – Cooperativa
Agroindustrial do Estado do Rio de Janeiro, em parceria com o MEC e a
Secretaria Municipal de Educação, aderiu em 2013, ao Programa Brasil
Alfabetizado (PBA), voltado para a alfabetização de jovens, adultos e idosos.
As aulas acontecem todas
as segundas, terças e quartas feiras, a partir de 18h, na casa cedida pela
Cooperativa, onde cerca de 10 alunos estão aprendendo a ler e escrever com a
professora Naara Ortência da Silva. O projeto atende a funcionários da
Cooperativa e familiares.
O apoio é tão intenso
que além de oferecer lanches, um veículo é disponibilizado pela Coagro, para
buscar os alunos em casa. “Enfrentamos as dificuldades e estamos superando
juntos. Tive a chance de me tornar amiga de cada um deles e estamos construindo
dia a dia, uma nova história”, afirma a professora que se desloca 40
quilômetros até chegar a escola.
Mas todo esforço vale a
pena, para ter a chance de mudar um passado em parte desconhecido. O
trabalhador rural, José de Oliveira, 55 anos, que desde jovem trabalha nas
lavouras de cana, conta com orgulho que sai de casa todos os dias às 5h da
manhã para trabalhar e ainda encontra disposição para frenquentar as aulas no
final da tarde. Foi assim que aprendeu a segurar o lápis pela primeira vez e
depois escrever o próprio nome.
E foi esse sonho de
poder escrever o próprio nome, que o levou à sala de aula. “Antes, na hora de
receber, eu usava meu dedo no papel como assinatura. Agora eu assino meu nome e
também pude tirar meus documentos” conta com alegria o estudante.
Mas não é só José, que
tinha o sonho de poder ler e escrever, sua irmã Josenilda de Oliveira, de 45
anos, também participa do projeto desde o ano passado. A aluna lembra que foi
depois que começou a frequentar a escola, conseguiu unir as letras e formar as
palavras. “Peguei a minha bíblia e consegui ler sozinha. Tive vontade de
chorar, porque consegui sozinha. Agora também posso pegar o ônibus sozinha e
saber para onde estou indo,” fala emocionada a aluna. Contribuiu para essas
matéria, a assessoria de imprensa da Coagro.
Colaboradores conquistam
sonho de ter habilitação
A Usina Santo Antônio,
de Alagoas, também sabe que a educação é um dos princípios primordiais da vida
e há três anos a empresa firmou uma parceria com o Sesi, através do EJA
(Educação de Jovens e Adultos). A Usina montou a classe em suas dependências e
ofereceu todo suporte inclusive para realização de eventos, passeios e fornece
transporte e lanches nessas oportunidades. Dirigir é o grande sonho de milhares
de brasileiros no país que muitas vezes manejam na ilegalidade por não saber
ler e escrever. Mas a alfabetização mudou a realidade de vários colaboradores
da Usina Santo Antônio. Entre eles o operador de máquinas, José Davi de
Almeida, de 34 anos e o operador de carregadeira, Sandro da Silva, de 38 anos.
Com jeito tímido, aos
poucos, Davi foi contando sua história de luta e superação. Por trabalhar na
infância para ajudar a família, não teve oportunidade de seguir nos estudos mas
guardou na memória o sonho de dirigir. “Hoje conquistei minha tão sonhada
carteira de habilitação, mas se não fosse a oportunidade da Usina, isso talvez
não seria possível. Muitas vezes achei que eu não seria capaz de aprender na
vida adulta, mas consegui e estou muito feliz”, lembra.
Sandro da Silva, também
está realizado com a carteira de habilitação. Também de família humilde do
interior de Alagoas, se lembra da dificuldade de estudar na roça. No início da
sua vida adulta foi cortador de cana, trabalhou na carpina e fez de tudo um
pouco na lavoura, mas guardou no pensamento seu objetivo. “Eu não sabia ler nem
escrever e me lembro que tentei tirar pela primeira vez minha carteira de
habilitação há cinco anos, mas a falta de estudos me atrapalhou. Me sinto outra
pessoa, muito motivado, feliz e não quero parar mais de estudar, agora vou até
a faculdade”, revela.
A professora Beatriz
Araujo fala com carinho dos alunos que tanto se esforçaram por seus objetivos.
“Foi uma grande vitória. Estudam em média por cinco anos para se formar no
fundamental, nas horas vagas”.
O projeto ainda ensina
como manipular caixa eletrônico, pois era uma grande dificuldade dos
estudantes. “A educação transformou a vida desses colaboradores, abriu
horizontes. Nós percebemos no dia a dia, as mudanças na forma de se comunicar,
de agir. Não temos apenas alunos, mas amigos”, afirma.
Fonte:
http://www.jornalcana.com.br/construimos-uma-nova-historia/