Conselho torna currículo do ensino médio mais flexível

05/05/2011

 

De acordo com seu perfil, escolas poderão enfatizar algumas disciplinas. No ensino noturno, 20% das aulas poderão ser ministradas a distância e curso poderá ter mais que os atuais três anos

 

O CNE (Conselho Nacional de Educação) aprovou ontem novas diretrizes para o ensino médio que incentivam as escolas a elaborar currículos mais flexíveis e adaptados ao contexto dos estudantes. A ideia é que cada colégio organize o ensino em torno de quatro grandes áreas: trabalho, tecnologia, ciência e cultura. A partir delas, o currículo poderia enfatizar algumas disciplinas. Uma escola que fica em uma localidade industrial, por exemplo, poderia enfatizar tecnologia e trabalho e, dessa forma, dar mais espaço a física e química na grade. Não se pode, porém, deixar as outras disciplinas de lado. Ou seja: todas as escolas continuam tendo a obrigação de ensinar matemática, português, ciências, filosofia e sociologia. A diferença é que, com as novas diretrizes, elas ganham um incentivo para dosar a grade horária como preferirem. A autonomia das escolas em relação à organização da carga          horária já é permitida hoje pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1996. O CNE espera que as diretrizes sejam mais um incentivo. As diretrizes também mudam o ensino médio noturno, onde estudam cerca de 40% dos alunos. Elas permitem que até 20% das aulas sejam a distância e que o curso dure mais do que os atuais três anos. O documento aprovado ontem no conselho ainda tem que ser homologado pelo ministro Fernando Haddad (Educação). Segundo José Fernandes de Lima, relator do tema no CNE, há grandes chances de isso acontecer, porque o texto foi construído com consultas ao Ministério da Educação. Já a pasta diz que o ministro ainda vai analisar o documento. O próprio MEC tem um programa que incentiva financeiramente 357 colégios com propostas curriculares inovadoras e que trabalha com as quatro grandes áreas. Carlos Roberto Jamil Cury, professor da PUC-MG e ex-presidente do CNE, elogia a decisão do                conselho, mas ressalva que ela só explicita uma possibilidade que já estava prevista na legislação.

O que aconteceu, diz ele, é que os vestibulares e, mais recentemente, o Enem acabaram pautando mais o ensino médio do que as diretrizes. Ou seja, pouco vai adiantar mudar o currículo se os processos seletivos não forem modificados. Em relação ao ensino noturno, Cury afirma que a novidade tem o mérito de incluir o aluno no mundo das novas tecnologias, mas, por outro lado, manifestou o receio de que isso seja feito sem o suporte necessário, tanto de equipamentos como de professores, o que prejudicaria a qualidade do ensino. Para Carlos Eduardo Ferraço, professor da Universidade Federal do Espírito Santo, é interessante valorizar o contexto do aluno no projeto pedagógico da escola, mas isso não deve restringir o que o aluno aprende.

 

ANGELA PINHO DE BRASÍLIA

 

> Folha de São Paulo