Colocação rápida no mercado leva estudantes ao curso técnico

Aluno de escola particular é adolescente influenciado pelo pai. Adultos preferem curso tecnológico, de nível superior, diz diretor de colégio.

15/03/2011

 

Alvo de projeto do governo federal que pretende oferecer bolsas e financiamento nas escolas particulares, o ensino técnico é procurado por estudantes e seus pais, no caso dos adolescentes, devido à possibilidade de colocação rápida no mercado de trabalho. Foi essa a preocupação do supervisor de manufatura Luciano do Nascimento, de 42 anos, quando incentivou o filho a procurar uma escola técnica no ensino médio. Nicolas Luciano do Nascimento, de 16 anos, chegou a ser aprovado em uma Escola Técnica (Etec) do governo de São Paulo, mas o pai preferiu colocá-lo em uma escola particular ao descobrir que na Etec ele faria só o curso técnico e teria que fazer o ensino médio em outra escola. “Quis que fizesse tudo junto”, afirmou Luciano. Hoje, o jovem faz o terceiro ano do curso de automação. “No começo, não queria muito. Fui influenciado pelo meu pai. Depois que entrei, gostei. Gosto da parte elétrica”, disse Nicolas. Neste ano, começou a fazer outro curso no Senai, de eletricista de manutenção, em que recebe R$ 800 de bolsa-auxílio, e já pode arcar com parte de seus gastos. O jovem planeja entrar no mercado de trabalho no ano que vem. "Quero trabalhar assim que der", disse. Segundo Luciano, a possibilidade ter uma bolsa ou financiamento no ensino técnico para o filho teria ajudado. “Diminuiria os gastos. A       mensalidade é puxada e faz diferença no orçamento”, disse.

R$ 7 mil - A mensalidade no Colégio Vocacional Radial, onde Nicolas estuda, gira em torno de R$ 600. Deste total, R$ 200 são referentes ao ensino técnico. O custo da parte técnica é de cerca de R$ 7 mil. Segundo o diretor do colégio, Ibrahim Curi, a maior procura é de jovens das classes C e D. Poucos são da classe B. A procura é maior pelos jovens, que acabam de sair do ensino fundamental. "Os adultos preferem fazer o curso tecnológico, porque é de nível superior e custa quase a mesma coisa. Os jovens acabam o fundamental aos 14 anos e já entram no ensino técnico", disse Curi. De acordo com o diretor, apesar da oferta de vagas em escolas estaduais e federais, os pais procuram cursos para os filhos em escolas particulares pela preocupação com disciplina, segurança, limpeza e por saberem que não vai faltar professor. "Se puder, ele paga", afirmou. Para Curi, o projeto do governo federal deve aumentar a possibilidade dos pais que não podem pagar de matricular os filhos em escolas privadas. Atualmente, 161 escolas particulares do país oferecem ensino técnico integrado, em que aluno faz nível médio e profissionalizante em um único turno de estudos, de acordo com dados do Censo da Educação            Básica 2010, contra 956 públicas. Na educação profissional, caso das escolas que oferecem apenas o ensino técnico, as particulares são 2.447 contra 1.437 públicas.

A dona de casa Sandra Aparecida de Fátima Brito Carchio, de 42 anos, e o marido fizeram questão de matricular os filhos em escolas particulares. Pagam escola para três dois filhos e têm ajuda dos pais dela para pagar a escola de outra filha. “Um financiamento seria interessante. Ajudaria bastante”, afirmou Sandra. O filho de 16 anos, Alexandre Pietro Carchio, faz o terceiro ano de informática. Pretende usar o aprendizado do curso técnico para trabalhar, se manter durante a faculdade, e aliar ao que vai aprender no curso superior. Quer faze publicidade. Sandra disse acreditar que o curso técnico beneficiará o filho mesmo com a vontade dele de seguir para outra área no ensino superior. “Informática abrange bastante coisa. Se ele achar melhor fazer publicidade, vai conseguir encaixar o que aprendeu”, disse. Para o coordenador do curso de automação do Radial, Edson Russo, um programa de incentivo para estudantes fazerem ensino técnico em escolas privadas pode ajudar jovens que realmente pretendem seguir carreira na área técnica a fazer os cursos. “Quem tem recursos faz o técnico e vai para a faculdade depois”, disse.

 

Fernanda Nogueira do G1, em São Paulo

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