A Gazeta, 07/07/2004 - Vitória ES

Caem matrículas no ensino médio

Adriana Menezes e Michelly Lauer

 

Realidades diferentes dividem o mesmo teto na família das irmãs Joselene, de 25 anos, e Josemara Nunes Santos, de 16 anos. Moradoras do bairro Central Carapina, na Serra, elas caminham em direção oposta nos estudos. Enquanto Joselene parou os estudos na quinta série do ensino fundamental, há mais de dez anos, Josemara segue firme nas aulas e nunca ficou reprovada. Está na 2ª série do ensino médio e não pensa em desistir. As jovens refletem na prática um levantamento feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas do Ministério da Educação (Inep/MEC) sobre o número de matrículas nos ensinos fundamental, médio e na educação de jovens e adultos.

 

O estudo revelou que o Espírito Santo está na contramão do que ocorre no país, com acentuada queda nas matrículas para o ensino médio, no caso de adultos com mais de 25 anos de idade. Na média nacional houve um aumento de 16,2% na matrícula de jovens, passando de 607.110 para 705.495 matrículas. As escolas capixabas, que em 1999 abrigavam 12.596 jovens, possuem 9.827 matrículas efetivadas, queda de 22%. Já as matrículas no ensino fundamental no país caíram de 36.059.742   para 34.438.749, um percentual 4,5% menor, comparando os anos de 1999 e 2003. O Espírito Santo acompanha a queda, mas em escala maior, com redução de 7,2%. De 614.779 alunos matriculados entre a 1ª e 8ª séries, foi para 570.928.

 

Reflexo - Na opinião do diretor financeiro do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Espírito Santo (Sindiupes), Paulo Teixeira, a queda de matrículas no ensino médio é o reflexo da extinção do estágio do ensino profissionalizante. "Antes o jovem carente de 18 anos pensava em fazer o ensino médio pois via um trampolim entre o estágio e o mercado de trabalho. Uma chance para sair da miséria", afirmou. Sobre o ensino fundamental, ele destacou que "é preciso que os pais possam manter os seus filhos estudando com qualidade."

 

O secretário de Estado da Educação, José Eugênio Vieira, disse que o Estado, firmado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, não tem mais prioridade sobre o ensino fundamental, que ficou sob a responsabilidade dos municípios. Ele informou que, com base no censo dos anos de 2002 e 2003, houve um aumento de alunos no ensino médio no Estado. Em     janeiro, segundo ele, o índice foi de 4,2%. "As empresas têm contratado quem têm no mínimo o ensino médio e as pessoas com mais de 40 anos estão sendo obrigadas a retornar aos bancos escolares para garantir a sobrevivência."

 

Capital - O secretário de Educação de Vitória, Elizeu Moreira Santos, disse que, ao contrário do estudo, tem ocorrido o aumento da demanda de matrículas. Esse aumento tem se verificado, continua ele, até em bairros onde ainda serão construídas unidades de ensino fundamental, como Jardim Camburi. "Em outros bairros, como Jardim da Penha, há pedido de reformas e ampliação das escolas. O resultado não condiz com a realidade da Capital e deve se referir ao Estado", afirmou. Já o presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino Particulares do Espírito Santo (Sinepe), Alexandre Theodoro, esclareceu que, apesar de não ter em mãos os dados da pesquisa, o sindicato constatou que, de 1999 para cá, tem diminuído o número de matrículas nas unidades privadas, em razão da falta de financiamento educativo e da queda do poder aquisitivo da população.