Brasil não se preparou para demanda no ensino médio, diz consultor do Unicef
01/03/2011
O Brasil não
se preparou para a demanda atual de estudantes no ensino médio, diz Mário
Volpi, coordenador do programa "Cidadania dos adolescentes" do Unicef (Fundo das Nações Unidas
para a Infância). "Nunca houve um investimento tão denso, profundo e
sistemático no ensino médio como houve no fundamental; não só financeiro, mas
no capital humano. Agora, o país precisará se preparar com os alunos dentro da
sala de aula", diz. Segundo estudo do Unicef divulgado na sexta-feira (25), um em cada sete
adolescentes brasileiros está fora da escola e, dentre os que estão na sala de
aula, a distorção entre idade e série que deveriam cursar é alarmante: dentre
os alunos de 14 a 17 anos, mais da metade está fora do nível secundário - etapa
em que deveriam estar.
Apesar de
apontar iniciativas que deverão beneficiar essa etapa da educação, tais como a
instituição da obrigatoriedade do ensino de 4 a 17 anos, a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que acabou com a
incidência da DRU (Desvinculação de Receitas da União) sobre a verba destinada
à educação e a criação do piso nacional do professor, ele salienta que é
preciso criar uma política educacional em que o ensino médio "faça
sentido" para o adolescente e que ajude a acelerar a transição entre o
fundamental e a segunda etapa para os que estão atrasados. Hoje, diz Volpi, há
poucas alternativas para que o aluno atrasado no fundamental possa chegar ao
médio sem concluir todos os anos de estudo regularmente. "Há experiências
muito localizadas, como a educação por módulos, mas é preciso avançar nessa
questão. A gente percebe que há rigidez excessiva nesse campo dos adolescentes
e o que é preciso não é tanto rigidez, mas criatividade." De acordo com o
educador, o ensino secundário de hoje está mais voltado ao jovem maior de 18 anos,
enquanto deveria focar o adolescente de 15 a 17: "a adolescência é a fase
em que se aprende pela interação, pelo diálogo, pela descoberta, pela
experiência; essas características é que deveriam nortear essa etapa. Quando
você tem uma política para o adolescente, ela tende a funcionar melhor".
Da mesma
forma, Volpi defende políticas específicas para o adolescente na cultura e na
saúde. Como exemplo, ele cita os casos de gravidez na adolescência, em que as
jovens ficam entre pediatras e ginecologistas. "Não tem um serviço
especializado para o adolescente que permita a ele colocar as dúvidas que tem;
houve políticas localizadas, mas se perderam. Falta preparação para lidar com o
jovem." "Esse é o momento em que talvez tenhamos o maior número de
adolescentes no mundo, é o momento que vai definir as características da
próxima geração. Se não tiver um grande investimento nesse adolescente, podemos
perder o investimento que fizemos na primeira década de vida [dele]", diz.
Portal UOL Educação
Ana Okada em São Paulo