Boas-vindas ao novo ensino médio
06/05/2011 - Belo Horizonte MG, Estado de Minas
Proposta aprovada por conselho para aproximar currículo da
realidade de estudantes é bem recebida, mas esbarra na necessidade de formação
voltada para as exigências do vestibular
A possibilidade de mudança no currículo do ensino médio, aprovada esta semana pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), foi bem recebida por estudantes e representantes de escolas públicas e particulares de Minas. Segundo a Secretaria de Estado de Educação (SEE), as novas diretrizes representam uma chance de tornar a sala de aula mais atraente para os jovens e, assim, combater o abandono escolar, que chega a 40% ao longo dos três anos do ensino médio no estado. Apesar de favoráveis às inovações, especialistas em educação alertam para a dificuldade de adequação das instituições às alterações, pois o conteúdo atualmente dado nas escolas é voltado para os vestibulares.
O CNE aprovou duas mudanças estruturais no ensino médio. A primeira, que dá mais flexibilidade ao currículo, permite que cada escola monte a grade de disciplinas a partir de quatro áreas: ciência, tecnologia, cultura e trabalho. Na prática, isso deve significar a manutenção de 75% da carga horária com matérias tradicionais (português, matemática, biologia, história etc.). Os 25% restantes poderiam ser dedicados a conteúdos eletivos. Outra novidade é a possibilidade de dar mais tempo para que os alunos do ensino médio noturno concluam o curso, hoje com três anos de duração mínima. Além disso, parte das aulas da noite seriam a distância. As alterações aprovadas pelo conselho precisam agora ser homologadas pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, para entrar em vigor.
Sem comentar detalhes das novas diretrizes, a Secretaria de Estado de Educação considera “absolutamente relevante” a preocupação do CNE com o ensino médio. “A resolução que permite maior flexibilização dos currículos e projetos político-pedagógicos é um sinal muito importante. É preciso tornar o ensino médio mais atraente para os estudantes e criar cursos que tornem essa etapa de ensino mais significativa na vida dos jovens”, diz a secretária-adjunta de estado de Educação, Maria Céres Pimenta. De acordo com o órgão, 42% dos estudantes que concluem o ensino fundamental no estado não chegam ao nível médio e 40% dos que estão nessa etapa da educação abandonam as salas de aula ao longo dos três anos do curso.
Em escolas particulares, como o Colégio Sagrado Coração de Jesus, no Bairro Funcionários, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, a possibilidade de mudanças agrada a professores e alunos. Segundo a diretora Educacional Regina Celi Valle, a mudança pode significar a chance de direcionar melhor o ensino médio para os interesses do estudante. O problema, segundo a educadora, é a necessidade de a instituição atender as exigências do vestibular. “O ideal seria que a escola tivesse um currículo básico e o restante da carga horária fosse destinada a desenvolver habilidades específicas dos jovens. Isso evitaria uma base tão densa e um currículo tão pesado. No entanto, o ensino médio está ligado à preparação para os vestibulares e, enquanto as provas cobrarem tanto conhecimento dos alunos, não temos como trabalhar de maneira desvinculada.”
A possibilidade de mudança também é bem recebida por estudantes. Para Larissa Franco Cosso, de 15 anos, a escola seria mais dinâmica e interessante sem uma carga horária “amarrada”. “Seria ótimo escolher algumas matérias. Eu, por exemplo, ia dar preferência para biologia e química, na tentativa de direcionar minha formação para a universidade”, conta Larissa, do 1º ano do ensino médio, que sonha em cursar medicina. Com planos de ser diplomata, Guilherme Grossi, de 16, idealiza a escola com mais aulas de história e geografia. “A escola deveria preparar os jovens para o que eles querem ser no futuro. Eu gostaria de ter mais aulas de língua estrangeira, música e também de matérias que terei de enfrentar no vestibular.”
Glória Tupinambás