Sonia Aparecida Ijano Batista. PARA QUE ENSINAR LITERATURA PARA QUEM
CARREGA SACO NAS COSTAS?. 01/12/2003
1v. 89p. Mestrado.
UNIVERSIDADE DE SOROCABA - EDUCAÇÃO
Orientador(es): MARIA
LÚCIA DE AMORIM SOARES
Biblioteca Depositaria: ALUISIO DE ALMEIDA
Email do autor:
piedade@piedade.sp.gov
Palavras
- chave:
ensino , literatura ,
leitura , escrita , crítica genética
Área(s)
do conhecimento: EDUCAÇÃO
Banca
examinadora:
LUIZ PERCIVAL LEME BRITTO
Linha(s)
de pesquisa:
Construção do Conhecimento nas Relações
Escolares Investiga
a produção do conhecimento na instituição escolar, a partir das relações entre
educação e sociedade, dos processos de ensino-aprendizagem e do cotidiano
escolar, em uma perspectiva histórico-cultural.
Dependência
administrativa
Particular
Resumo
tese/dissertação:
Esta pesquisa objetiva responder a pergunta
realizada por um aluno do Ensino Médio de uma Escola Pública
: "Pra que ensinar literatura pra quem carrega saco nas
costas?" . Leahy - Dios , Candido , Gonçalves ,
Ostrower , Geraldi e Compagnon sinalizaram que o desinteresse do aluno pela
literatura tinha causas sociais , ligadas ao utilitarismo advindo da
racionalidade espalhada na sociedade , que se materializa em situações
objetivas como comer , vestir-se , abrigar-se sob um teto ou arrumar um emprego
, contexto que não faz a literatura, enquanto arte , interessante . Entrevi , acompanhada de Sabato , Walty , Britto , Kramer e Geraldi os fantasmas que assombravam os alunos , que não se
reconheciam como autores de seus próprios textos, observando que os mesmos não
escreviam textos por prazer , mas para cumprir tarefas escolares, como
trabalhadores . Busquei , então , uma forma de leitura
e escrita que se diferenciasse do cotidiano das aulas e permitisse o não temor
aos erros ortográficos , um fantasma sempre presente . Encontrei-a em Memorial
do Fim , de Haroldo Maranhão . Em quatro capítulos
dessa obra, o autor realiza um processo de apropriação ,
utilizando-se de fragmentos literários retirados de romances de Machado de
Assis , não usando nenhuma palavra sua . Munida da fórmula de Maranhão , apliquei-a num exercício de leitura e escrita,
numa 3ª série do Ensino Médio - período noturno , da EE. Prof. Carlos Augusto de Camargo", em Piedade para responder
ao aluno inquisidor e a mim mesma , enquanto professora de Língua Portuguesa e
Literatura : "pra que ensinar literatura pra quem carrega saco nas costas?" . A exemplo de Haroldo Maranhão , que escolheu as
obras de Machado de Assis , selecionei o conto Senhoras de Tchekhov , que narra
a história de um professor que estava prestes a perder o emprego . Como
resultado , surgiram criações com enfoques diferenciados , porém em nenhum
momento os alunos, enquanto jovens trabalhadores , se distanciaram do trabalho
e do "saco nas costas" . No caminho de Maranhão , foram criadas vinte
e uma novas narrativas, num processo de construção semelhante a um quebra -
cabeças , onde os alunos retiraram as peças do conto Senhoras de Tchekhov para
a construção de suas próprias criações , cujas análises foram realizadas
através da Crítica Genética , seguindo os passos de Salles , De Biasi , Gresillon , Hay e Zular . A pesquisa provocou
uma ação de simultaneidade , pois a medida em que os vinte e um quebra-cabeças
eram montados pelos alunos , em seus textos , havia se montado um outro , o meu
, cuja forma permitiu-me captar que a pergunta do aluno-inquisidor havia sido
direcionada a mim , enquanto professora de Língua Portuguesa e Literatura ,
portanto profissional da educação. Uma pergunta , numa noite , vinda do fundo
de uma sala de aula do Ensino Médio , através da voz de um aluno , trouxe-me a
consciência da importância de ensinar literatura a quem carrega "saco nas
costas" .