A utilidade do ensino técnico

Avay Miranda 

Jornal de Brasília, 27/11/2007 - Brasília DF

 

Venho afirmando que o sistema educacional do Brasil é deficiente e recentemente disse que até mesmo a ONU constatou que o ensino no Brasil é o pior da América Latina, ficando abaixo do Haiti, um país destroçado pela guerra civil. Entretanto, a questão primordial é que a educação é deficiente, não há um bom preparo, de modo geral, mas o mercado a cada dia exige mais. Por isso venho defendendo que o governo tem de olhar mais para a profissionalização do magistério, tem que melhorar a formação e a remuneração dos professores, valorizando esta profissão e equipando as escolas adequadamente. O Governo Federal privilegia o Ensino Universitário, concentrando a aplicação dos recursos na manutenção das universidades federais e gasta muito no incentivo aos universitários, como os empréstimos da CEF e o Prouni, para o financiamento de estudantes que não podem pagar as altas taxas das faculdades particulares. Mas como ficam os ensinos Fundamental e Médio? Está provado que o ensino no Brasil é fraco e o aluno não sai da educação Fundamental e da Média com a formação necessária para enfrentar uma faculdade. Daí a proliferação dos conhecidos cursinhos como preparação para o vestibular e para os diversos concursos. Se houvesse ensinos Fundamental e Médio à altura, não haveria necessidade desses cursinhos. Recentemente li uma entrevista do museólogo espanhol Jorge Wagensberg, na qual ele  dizia que "embora a sociedade seja dominada pelo conhecimento científico, a população é cientificamente analfabeta". Seria pelo verniz de cultura adquirido nas Faculdades sem a base do Ensino Fundamental? Numa entrevista concedida à Revista Veja do dia 17 de outubro de 2007, o ministro da Educação, Fernando Haddad, demonstrou que tem conhecimento dos problemas do ensino no Brasil e estabelece uma meta de 15 anos para que seja amenizado. É claro, se houver vontade política do governo, com um projeto de longo prazo, e investir maciçamente no apoio aos ensinos Fundamental e Médio, especialmente introduzindo a inovação tecnológica, para a capacitação dos professores e melhor aprendizado dos alunos, contando com o apoio dos governadores e dos prefeitos para que o professor possa se transformar efetivamente num provedor de estímulos, sem tendência partidária ou ideológica.Por outro lado, o Ensino Técnico não é valorizado no País. Não há incentivo para a criação dessas escolas no Brasil. Pelo contrário, o governo até desestimula, tanto que este ensino se equiparava ao antigo científico, dando condições para o aluno terminá-lo e tentar um vestibular, mas o governo tirou esta condição. Quem quiser cursar uma faculdade, além do Ensino Técnico, terá que cursar o Ensino Médio   normalmente. Portanto, a formação profissional do  jovem é uma necessidade e ela se dá pelo ensino especializado. Há uma grande disponibilidade de vagas para técnicos no País. As empresas e as repartições públicas que necessitam de preencher essas vagas encontram dificuldades por falta de pessoal preparado. A solução que tem sido encontrada é o aproveitamento de pessoas com o curso superior em cargos técnicos. Isto, com efeito, é o reflexo do sistema educacional vigente no País, que não prepara adequadamente o aluno para a vida prática. Não se pode esquecer que a iniciativa privada tem feito esforços para suprir essas falhas, instituindo cursos técnicos, quer do nível médio, quer do superior, para a formação de técnicos capacitados para a exigência do mercado. Vê-se que são poucos os estabelecimentos de ensino que oferecem curso para o ensino técnico médio e superior. O governo está anunciando a instalação de diversas escolas técnicas pelo País. Contudo, quem teve a oportunidade de cursar o nível médio técnico, ou, melhor ainda, o técnico superior, pode ter certeza de que será aproveitado de imediato pelo mercado de trabalho. Alguns estabelecimentos de ensino saíram na frente e estão formando técnicos capacitados para o suprimento das deficiências do mercado de trabalho. É uma iniciativa que poderá refletir positivamente no desenvolvimento.