Aulões para Enem entram no impasse de
greve na Bahia
09/07/2012
A
greve dos professores da rede estadual de ensino na Bahia chega aos 90 dias
nesta segunda-feira, dia 8, sem perspectiva para acabar. Até mesmo os aulões de reforço instituídos pelo governo para atenuar os
prejuízos aos alunos do 3º ano do ensino médio são questionados e considerados
um exemplo da intransigência do governador Jaques Wagner pelos grevistas, que
por sua vez não aceitam as propostas de reajuste recebidas até agora.
A
vice-coordenadora do Sindicato dos Trabalhadores em
Educação do Estado da Bahia (APLB), diz que o governador não quer dialogar com
a categoria e conceder o reajuste de 22,22%, acordado em 2011, mas paga R$ 250
por hora-aula para os profissionais contratados para dar aulas preparatórias para
o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e vestibulares.
Professores da rede ganham R$ 5 por hora-aula.
Para
ministrar 384 aulões, o governo contratou sem licitação a Abais Conteúdos Educativos e Produção Cultural,
empresa do professor Jorge Portugal, e vai desembolsar cerca de R$ 1,6 milhão. Tais `aulões`
são ministrados em 13 bairros da capital e em outros 11 municípios.
‘Pedimos
ao MP um posicionamento frente à contratação de uma empresa por um valor
altíssimo, alegando que era para pagar o custo da hora-aula para esses
profissionais. E não houve licitação. Nós, inclusive, fizemos um cálculo: o
valor da hora-aula de professor de colégio particular é de R$ 8. O de cursinho,
R$ 30. Então o que justifica o governo pagar R$ 250 por hora-aula?’,
questionou.
A
Secretaria Estadual de Educação diz que `a contratação
se deu em caráter emergencial, que dispensa licitação, conforme previsão legal,
tendo em vista a necessidade de minimizar os prejuízos causados pela greve dos
professores aos estudantes concluintes do ensino médio da rede estadual que vão
prestar provas do Enem e vestibulares`.
O
‘aulão’ tem quatro horas e reúne de 500 a 700 alunos
por sala. O conteúdo é o cobrado no Enem: matemática, linguagens, ciências da
natureza e ciências humanas.
Márcio
Carlos Santos, 18, foi um dos 400 estudantes que acompanharam o primeiro aulão, na semana passada, no colégio Parque, no bairro
Caixa d`Água. `Gostei porque falaram dos problemas gerados pelo tráfico de
drogas. Mas o mais massa era o show de reggae no intervalo`, disse.
Além
dos aulões, para atender aos cerca
de 22 mil estudantes do terceiro ano do ensino médio em Salvador - são
72 mil em toda a Bahia -, o governo convocou 706 professores temporários e 545
em estágio probatório para darem aulas regulares em 19 escolas da capital.
Desse modo, há a mistura de estudantes de diferentes colégios na mesma turma.
Um
desses 19 polos é o Colégio Estadual Mário Augusto Teixeira de Freitas, no
bairro Nazaré. Nessa unidade há aula para alunos de outras seis escolas, num
total de 260 alunos. Porém, esse número é inferior ao de estudantes do próprio
terceiro ano do Teixeira de Freitas: 360 em um universo de 2.150.
Elaine
Petronílio, 17, estuda no Teixeira de Freitas e
reclamou das aulas. ‘As matérias não avançam o assunto. Temos aulas da mesma
disciplina, com professores diferentes, mas os assuntos não mudam’.
‘Colega de Elaine,
Douglas de Lima, 17, afirmou não se sentir preparado para o Enem. ‘Não me
inscrevi [para o exame] pois não sei se essas aulas
dão o conteúdo que realmente vai cair na prova’, disse o estudante.
Cinquenta
e sete temporários foram demitidos por não comparecerem às escolas onde foram
escalados para lecionar. Outros três, em estágio probatório, foram afastados
sob a suspeita de impedir a realização das aulas. O iG tentou entrevistar professores temporários, mas
ninguém quis se pronunciar. Um deles, sem se identificar, declarou que ‘estamos
vivendo tempos de ditadura’.
Negociações
O
reajuste de 22,2% reivindicado pelos professores, foi
prometido pelo governo em novembro de 2011.
Para
encerrar a paralisação, o governo acenou, com aumento de 7,29%, em novembro,
para professores com licenciatura que fizerem cursos de qualificação
organizados pelo Estado. Além disso, haveria mais um reajuste de 7% em abril do
ano que vem.
A
categoria recusou essa proposta. De acordo com os docentes, isso não contempla
professores aposentados, em estágio probatório e em licença médica. Eles também
dizem que essas garantias foram oferecidas pelo governo, e rejeitadas pela
classe, antes da deflagração da greve.
Por
sua vez, o governo do Estado afirma não ter verba suficiente para dar aumento
superior ao já proposto, e que eventual atendimento da exigência da APLB
resultará em transgressão à Lei de Responsabilidade Fiscal.
Segundo
o sindicato, 30 mil professores aderiram à greve de um universo de 36 mil,
prejudicando 1 milhão de em um universo de 1,1 milhão
de estudantes, espalhados em 1.141 escolas. Já de acordo com a Secretaria de
Educação, 76% das escolas da rede estão em funcionamento. Das 1.141 unidades,
1.065 têm aulas.
João Paulo Gondim