MARCOS PENNA SATTAMINI DE ARRUDA. EDUCAÇÃO PARA QUE TRABALHO? TRABALHO PARA QUE HUMANOS? REFLEXÕES SOBRE EDUCAÇÃO E TRABALHO HUMANO, SUA SIGNIFICAÇÃO E SEU FUTURO. 01/05/2001

1v. 606p. Doutorado. UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE - EDUCAÇÃO

Orientador(es): GAUDÊNCIO FRIGOTTO

Biblioteca Depositaria: BIBLIOTECA CENTRAL DO GRAGOATÁ

 

Palavras - chave:

EDUCAÇÃO E TRABALHO

 

Banca examinadora:

LEONARDO BOFF

           

Linha(s) de pesquisa:

O MUNDO DO TRABALHO E A FORMAÇÃO HUMANA  Inclui projetos centrados em temas vinculados aos fundamentos econômicos, culturais, políticos e sociais do trabalho e dos processos formativos humanos.       

 

Dependência administrativa

 Federal

 

Resumo tese/dissertação:

Parte do reconhecimento do papel ontogenético do trabalho humano e da educação e do pressuposto de que a crise civilizatória atual está ligada à questão ontológica fundamental de quem é o ser humano. Está tecida em torno de três perguntas básicas. Primeira: será o ser humano agressivo e competitivo por natureza? A resposta positiva a esta questão justificaria a sociedade violenta, a exacerbada competição econômica e as guerras que prevalecem no mundo, sobretudo no século que vem de acabar. A pesquisa parte do homo contraditório, para examinar o percurso evolutivo que o trouxe à atual etapa e, explorar as tendências para o futuro. A resposta sugerida pelas evidências apresenta é que o "diferencial evolutivo" que permitiu à espécie humana tornar-se dominante sobre todo o planeta não foi a agressividade nem a competitividade, mais a sociabilidade e a cooperação. Sobre estas qualificações vieram sedimentar-se as divisões - em contraste com a partilha - do trabalho, baseadas na apropriação privada dos frutos de trabalho de outros. O sistema do capital levou os efeitos desta divisão do trabalho ao extremo, tornando agressivos e competitivos não apenas os indivíduos, mas a espécie em quase todo o planeta. A evolução dos sentidos e da consciência humana. E as possibilidades abertas pelo progresso técnico, oferecem à humanidade, neste início de século e milênio, a oportunidade de superar esta trama fragmentadora e reorganizar sua vida pessoal e coletiva em torno das atitudes e comportamentos que durante milhões de anos fizeram os membros da espécie convergir, coordenar suas ações e compartilhar entre si os meios de vida e o prazer da convivialidade. Segunda: com a globalização neoliberal, está em crise o trabalho humano? A educação é a solução para esta crise? O homo traz em si potenciais genéticos(enquanto indivíduo), societários (enquanto agrupamento humano e sociedade) e filéticos (enquanto espécie) que lhe cabe desenvolver na máxima plenitude permitida pela sua existência. Como único ser consciente-reflexivo, conhececido, ele recebeu da vida o poder e a responsabilidade de tornar-se sujeito deste desenvolvimento, como pessoa e como coletividade. A pesquisa comprovou que a globalização tem gerado ameaças e também oportunidades para o homo; que é o trabalho assalariado que está em crise; e que a educação por si só não resolverá esta crise, mas tem que estar presente na sua solução. Só emancipando seu trabalho, saber e sua criatividade poderá o homo tornar-se sujeito do seu próprio desenvolvimento e realizar sempre mais suas potencialidades. Paradoxalmente, o mesmo sistema que estende ao planeta a exploração e a alienação, oferece a base objetiva para a emancipação do trabalho e do conhecimento. Mas isto será impossível enquanto os benefícios da produtividade continuarem estruturalmente apropriados pelos que controlam os recursos produtivos e os meios de comunicação. Só a democratização desses recursos e meios tornará possível uma nova economia fundada na complementaridade, reciprocidade, apoio mútuo e solidariedade, e no respeito e parceria com a natureza; inúmeras práticas inovadoras estão apontando nesse sentido. Esta a condição que garante a cada indivíduo e à sociedade a liberdade ao seu trabalho e o direito de ser sujeito pleno do desenvolvimento dos seus potenciais. Terceira: que educação para o trabalho emancipado? A educação é um fim em si, enquanto constitui um processo permanente do homo realizar sua vocação ontológica e histórica de ser sempre mais. Nisto consiste a evolução consciente do homo. É também um meio a serviço de um determinado projeto de homo e de sociedade. Na sociedade global atual, o trabalho da maioria continua subordinado e reduzido a mercadoria e, assim, a condição da mera sobrevivência física; a educação tende a servir como fator de consolidação cultural e ideológica dessa divisão de trabalho. As práticas educativas são a base empírica sobre a qual se ergue a proposta da educação da práxis, cujo fim é o ensino-aprendizagem de desenvolver-se sempre mais integralmente, enquanto indivíduo - portanto personalizar-se com crescente autonomia - e enquanto ser social - portanto, socializar-se com crescente sentido de solidariedade. Na perspectiva da Práxis, é preciso emancipar a própria educação dos seus condicionantes sistêmicos, para que realize sua vocação maior, que é o emponderamento do homo para assumir plenamente o trabalho e a responsabilidade de ser sujeito do desenvolvimento dos seus potenciais enquanto indivíduo, sociedade e espécie.