Após
Ideb, MEC desengaveta orientações para ensino médio
16/08/2012
O
fraco desempenho das redes responsáveis pelo ensino médio no índice que mede a
qualidade educacional acendeu um alerta no Ministério da Educação. Sete meses
após a publicação das novas diretrizes curriculares do ensino médio, o governo
vai enviar ao Conselho Nacional de Educação (CNE) propostas de planos para
colocar as novas orientações em prática.
As
sugestões do MEC eram aguardadas desde janeiro, quando a Resolução nº 2 do CNE
foi aprovada. O documento que define os novos rumos para a pior etapa da
educação brasileira determina que o ministério enumere o que espera que os
estudantes do ensino médio aprendam. As propostas deveriam ser elaboradas após
a publicação das diretrizes, em parceria com os Estados e municípios.
Durante
a divulgação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2011, na terça-feira, o ministro da Educação, Aloizio
Mercadante, defendeu mudanças curriculares no ensino médio para mudar a triste
realidade dos jovens brasileiros revelada pelos números. Essa etapa teve o pior
desempenho no Ideb 2011, que varia de 0 a 10. O
Brasil alcançou a modesta meta global de 3,7, mas 11 Estados não atingiram as
notas propostas para o ano passado.
Mercadante
criticou a quantidade de disciplinas obrigatórias para os estudantes do ensino
médio e defendeu mais integração entre elas. Um tema debatido à exaustão
durante os últimos três anos pelo Conselho Nacional de Educação e o próprio
ministério. “Voltar a esse debate é contraproducente”, avalia Daniel Cara, coordenador
da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
Cara
acredita que o MEC deveria ouvir os secretários de educação para debater os
resultados de experiências já em curso para mudar essa realidade. Ele cita o
ensino médio inovador, projeto piloto que começou a ser implantado no final de
2009 em 357 escolas. As escolas participantes recebem verba do governo federal
para bancar projetos em que os estudantes tenham 20% mais tempo de estudo com
atividades culturais e recuperação de conteúdos.
A
flexibilidade proposta pelo ensino médio inovador foi bastante aproveitada pelo Conselho Nacional de Educação na elaboração das novas
diretrizes do ensino médio. O secretário de Educação Básica do MEC, César Callegari, que já era conselheiro à época em que as primeiras
discussões sobre mudanças nessa etapa começaram, garante que o MEC não pretende
reiniciar o mesmo debate (temor de especialistas no assunto).
“Não
é uma nova proposta. Não havia prazo, mas nós precisávamos enviar essas
orientações ao Conselho. Os resultados do Ideb
forçaram o MEC a acelerar esse processo. Queremos tornar ainda mais claras
quais mudanças curriculares esperamos das redes, visando o direito de
aprendizagem dos alunos”, afirma. Segundo Callegari,
no próximo dia 21, o ministro Mercadante se reunirá com os 27 secretários
estaduais de educação para discutir o tema.
Demandas
Na
reunião com os gestores, o governo também quer debater outros temas
considerados essenciais para melhorar o ensino médio. A formação dos
professores, a organização curricular e os materiais didáticos são apontados
pelo próprio secretário como possíveis empecilhos para colocar o plano de
integração de disciplinas em prática. “A organização curricular é apenas um dos
pontos importantes para mudar o ensino médio. Mas não estamos falando de
diminuir disciplinas, porque há leis que exigem essa quantidade. A questão é
integrá-las”, diz.
As
diretrizes curriculares ressaltam que “o currículo deve
contemplar as quatro áreas do conhecimento (linguagens, matemática,
ciências da natureza e ciências humanas), com tratamento metodológico que
evidencie a contextualização e a interdisciplinaridade”. O que não significa
agrupar as disciplinas nessas áreas. O presidente do CNE, José Fernandes Lima,
defende uma avaliação das experiências já em curso no País.
“Eu
acho importante que os resultados do Ideb sejam
avaliados e o MEC procure acelerar o desenvolvimento daqueles que não estão
tendo sucesso. As diretrizes do ensino médio foram muito discutidas
nacionalmente e representam o que conseguimos de consenso. O que falta é esse
documento chegar às escolas”, defende Lima.
As novas diretrizes dão mais liberdade às redes para
definir os currículos e estimulam que isso se estenda aos alunos. As grades
curriculares podem ter focos, como trabalho, ciência e tecnologia e cultura.
Parte da carga horária deveria ser destinada a projetos encabeçados pelos
próprios alunos e há flexibilidade para organizar as disciplinas dentro desses
projetos.
“Os
estudantes já chegam ao ensino médio com dificuldades anteriores, que levam
alguns a desistir. A divisão disciplinar é outro ponto de
dificuldade dessa etapa, mas o agrupamento de disciplinas tem um impacto muito
sério na formação dos professores, que não estão preparados para isso. O
desafio não é simples”, ressalta o vice-presidente do Conselho Nacional dos
Secretários Estaduais de Educação (Consed), Klinger Barbosa Alves.
A
integração do ensino médio à educação profissional é outro ponto que ele
acredita ser importante nos debates sobre o futuro da etapa. “Algumas mudanças
podem ser rápidas, outras vão demorar”, diz.
Priscilla
Borges - iG Brasília - iG Último Segundo - São Paulo, SP