Analfabetismo zero é inviável, diz secretário

Segundo secretário de Educação de SP, "ninguém tem 100% de alfabetizados'; Estado é o 2º com maior número de analfabetos no país. Para o governo estadual, a segunda posição se deve ao fato de o Estado concentrar 23% da população de todo o país em seu território

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Folha de São Paulo, 14/06/2009 - São Paulo SP

 

Eliminar o analfabetismo é uma missão quase impossível, avalia o secretário de Educação de São Paulo, Paulo Renato Souza. "Quanto menor a taxa de analfabetismo, maior a dificuldade de localizar e atrair os que não sabem ler nem escrever", disse o secretário. "100% de alfabetizados ninguém no mundo tem." Para o governo estadual, o fato de o Estado ocupar a segunda posição na lista dos Estados com o maior número de analfabetos no país decorre da concentração de 23% da população nacional em seu território. "A redução dessa taxa, por fenômenos estatísticos que apenas refletem as dificuldades práticas, tende a ser mais lenta do que em Estados em que os números são elevados", diz. O governo alega que o combate ao analfabetismo de adultos não é responsabilidade da administração estadual, mas anunciou o  lançamento do programa Alfabetiza São Paulo, voltado a jovens e adultos.

Posição do MEC - André Lázaro, secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC, disse que a proporção relativamente baixa de analfabetos em São Paulo não significa que o problema não exista. "Em termos absolutos, é o segundo maior número de analfabetos do país. É preciso olhar o direito desses indivíduos, é uma questão de enfoque da política", afirmou. Lázaro espera aumentar, em 2009, o número de analfabetos em classes do Brasil Alfabetizado, principal programa federal, ao qual nem o Estado nem a prefeitura paulistana aderiram. "Se conseguirmos que 50% dos matriculados sejam alfabetizados, será um bom resultado", calcula. Nos últimos anos, a contribuição do  Brasil Alfabetizado na redução do analfabetismo ficou entre 0,2 e 0,4 ponto percentual na taxa do país. Outros fatores contribuem para a redução: o menor número de jovens que passa dos 15 anos sem saber ler e a queda nas taxas de natalidade e a morte dos analfabetos idosos. Lázaro avalia que a maioria dos analfabetos fica fora das classes por três motivos: não encontra turmas próximas, não está interessada ou não acredita que possa aprender. O secretário diz que persegue a redução dos atuais 10% para 6,7% em 2015, segundo compromisso de 2000, da Conferência Mundial de Educação, em Dacar (Senegal): "Não falo em erradicação, porque supõe um zero que não existe". Também questionada, a Prefeitura de São Paulo não se manifestou até a conclusão desta edição. (MARTA SALOMON)