O Dia, 06/02/2003 - Rio de Janeiro RJ

Analfabetismo Zero

Magno Maranhão, Presidente da Associação Nacional dos Centros Universitários (Anaceu)

 

No Brasil há 16,3 milhões de analfabetos absolutos, 13,6% da população (Censo 2000, IBGE). Segundo projeção do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), chegaremos a 2020 com 4 milhões. A Unesco também não é otimista quanto à nossa competência para cumprir compromisso assumido no Fórum Mundial da Educação de Dakar (2000), de colaborar para a redução, pela metade, da população mundial de 824 milhões de analfabetos até 2015: o órgão acredita que teremos melhora entre 30% a 40%. Não espanta, portanto, o ceticismo ante a meta do Governo de chegar à taxa zero de analfabetismo em quatro anos. O problema do ceticismo é desaguar no desânimo, quando precisamos é entusiasmo, voltar a acreditar que "pode dar certo". Qualquer programa tem falhas e tanto o Analfabetismo Zero quanto o Fome Zero não são exceção, mas eles têm a virtude de não serem fechados, podendo ter correções de rota. O Fome Zero, por exemplo, é suspeito de assistencialismo, que criou uma população de pedintes no Brasil. Por isso, o combate à fome e à pobreza deve estar relacionado a programas educacionais. Que se dê alimento, mas que se exija contrapartida, como participação em programas educativos. Por quê? Porque a ignorância se alimenta de si mesma, e a comida doada acaba; mas a educação, não. Tem efeito multiplicador. O Analfabetismo Zero não almeja, em quatro anos, formar uma população culta. Como primeiro passo, porém, é viável, se todos nos mobilizarmos para fazer com que qualquer brasileiro seja capaz de ler e escrever textos simples. Já será mais do que órgãos internacionais, como a Unesco, julgam possível. E pode representar o primeiro passo para o Paternalismo Zero.