Analfabetismo no Brasil só acaba em 20 anos, revela Ipea

Índice de brasileiros que não leem nem escrevem caiu de 17,2% para 10% da população

Cláudia Rezende e Jáder Rezende

Hoje em Dia, 08/10/2009 - Belo Horizonte MG

 

Vinte anos seriam o tempo necessário para o Brasil conseguir eliminar o analfabetismo. O índice relacionado ao problema caiu em 16 anos – de 1992 para 2008 – passando de 17,2% para 10% da população, mas isso significa que ainda existem cerca de 14 milhões de brasileiros acima de 15 anos incapazes de ler e escrever um bilhete simples. Essa é a medida internacional para se classificar o analfabeto. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (7), na terceira análise feita pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) sobre a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) de 2008, que também abordou Gênero e Migração. A análise do Ipea mostra que a taxa de analfabetismo está caindo 0,45 pontos percentuais ao ano. Mas a queda não está acontecendo por mérito das políticas públicas. Segundo o texto, a redução não ocorre entre indivíduos da mesma geração. A esperança do Brasil para a redução do analfabetismo é a morte da população idosa  analfabeta. O secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação, André Lázaro, discorda da projeção e análise do Ipea. Para ele, as políticas públicas de alfabetização estão funcionando. “Talvez não na velocidade que gostaríamos”, disse. O secretário observa que, em 2004, havia 32% de pessoas com 60 anos ou mais analfabetas. Em 2008, o número caiu para 28%. Conforme Lázaro, o MEC trabalha com a meta estabelecida em Dakar, (Senegal), em 2000, de reduzir pela metade o analfabetismo até 2015. Com isso, o Brasil teria que chegar ao percentual de 6,7%. “Vamos chegar com folga”. Segundo André Lázaro, o principal programa na área é o “Brasil Alfabetizado”, que terá 2 milhões de alunos em 2009. De acordo com o secretário, o maior contingente de analfabetos está no Nordeste. Entre os estados, o líder é a Bahia, com 1,8 milhão, seguido por São Paulo, com 1,5 milhão.  Minas vem em terceiro lugar no país, com 1,3 milhão.

A reportagem tentou contato com representante da Secretaria de Estado da Educação para comentar o índice, mas a assessoria de imprensa informou que a fonte não estaria disponível. Para a professora de Sociologia da UFMG, Danielle Cireno Fernandes, a política de educação voltada para adultos no Brasil é ineficiente. Ela acredita que deveria ser implantado algum tipo de estímulo pecuniário, como o Bolsa-Família ou o Pró-Jovem, também para a população mais velha. Embora tenha estudado até a 8ª série, a dona de casa Viviane Chaves, 20 anos, pouco domina a leitura e a escrita. Ela abandonou os estudos aos 15 anos, ao descobrir que estava grávida. Viviane diz que tem vontade de voltar a estudar, mas o salário do marido, de um salário mínimo e meio, “mal dá para manter a casa e pagar o aluguel, muito menos pagar alguém para cuidar da menina”.