Estado de Minas, 03/08/2003 - Belo Horizonte MG

Analfabetismo ainda é visto como desafio

Meta de acabar com o problema no país até 2006 dificilmente será atingida. Governo reclama do baixo empenho de estados e municípios

Rosana Brant - De Brasília

 

A meta de zerar o analfabetismo do Brasil até 2006, promessa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, corre o risco de não sair do papel. Dados da própria Secretaria Extraordinária de Erradicação do Analfabetismo, ligada ao Ministério da Educação, mostram que, até julho deste ano, os números do programa Brasil Alfabetizado são muito pouco expressivos. Um milhão de pessoas um terço dos 3 milhões que o ministério pretendia alfabetizar em 2003 estão sendo assistidas por programas desenvolvidos por secretarias estaduais e municipais, além de organizações governamentais e não-governamentais. É muito pouco. Se continuarmos nesse ritmo, muitos estados não vão conseguir cumprir as metas. Está faltando maior participação por parte das secretarias estaduais , preocupa-se João Luís Homem de Carvalho, que comanda a Secretaria Extraordinária de Erradicação do Analfabetismo. O programa Brasil Alfabetizado começou a funcionar no início desse ano. A meta é alfabetizar 3 milhões de pessoas este ano; 6 milhões, em 2004; 6 milhões, em 2005; e 5 milhões, em 2006. A iniciativa envolve recursos da ordem de R$ 1,5 bilhão, previstos no Plano Plurianual. Do total, Minas tem direito a R$ 144 milhões.

 

Em Minas Gerais, o programa tem ficado abaixo da expectativa. Até julho, a secretaria extraordinária do Ministério da Educação recebeu, de cidades mineiras, pedidos para convênios que beneficiariam apenas 100 mil pessoas. Para o secretário Homem de Carvalho, é um número bastante tímido, se comparado com o universo de analfabetos do Estado: 1,6 milhão de pessoas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).  De Minas Gerais recebemos pedidos de várias prefeituras querendo desenvolver programas, só que para poucas pessoas. No município de Coronel Pacheco, na Zona da Mata, por exemplo, a prefeitura quer convênio para formar uma      sala de aula com apenas 15 alunos, diz ele.

 

Carvalho afirma que falta envolvimento maior da Secretaria de Estado da Educação com o projeto. Reclama que ninguém da secretaria nem ao menos se interessou em buscar informações sobre o programa. Infelizmente, essa falta de interesse não acontece somente em Minas, mas em vários estados brasileiros , lamenta. No entanto, o secretário mostra-se animado com a criação da Secretaria de Estado Extraordinária para o Desenvolvimento dos Vales do Jequitinhonha, Mucuri e Norte de Minas. A nova pasta acertou convênio com o ministério para alfabetizar 60 mil pessoas daquelas regiões. Homem de Carvalho diz que acabar com o analfabetismo é fundamental para o País. Existem cidades brasileiras onde o próprio prefeito não sabe ler, como Mandari, na Bahia. As pessoas precisam se indignar com a situação e partir para a ação mais efetiva. O mais terrível é não se dar conta de que o problema existe, reforça.