Portal Último Segundo, 09/10/2005

Analfabetismo afeta combate à pobreza e Brasil é um dos piores

 

LONDRES (Reuters) - O analfabetismo está prejudicando os esforços globais para reduzir pela metade a pobreza no mundo dentro de uma década, disse a Unesco na quarta-feira. Na quarta edição do seu Relatório Global de Monitoramento da Educação para Todos, a agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para a educação e cultura alertou que não só 20 por cento dos adultos do mundo são analfabetos como há 100 milhões de crianças na idade da educação primária fora das escolas. O Brasil aparece entre um grupo de apenas 12 países onde se concentram três quartos de todos os adultos analfabetos do mundo, diz o documento.

 

"A poderosa ligação existente entre a alfabetização de adultos e uma melhor saúde, maior renda, uma cidadania mais ativa e a educação das crianças deveria funcionar como forte incentivo para que governos e doadores sejam mais pró-ativos", disse o diretor-geral da Unesco, Koichiro Matsuura. Simbolicamente, o relatório foi lançado em um centro de alfabetização de adultos no bairro londrino do East End. Ao lado do Brasil, estão Índia, China, Bangladesh, Paquistão, Nigéria, Etiópia, Indonésia, Egito, Irã, Marrocos e República Democrática do Congo. Burkina Faso, na África Central, é o país com menor taxa de alfabetização de adultos, 12,8 por cento. Dois outros países da região vêm em seguida: Níger (14,4 por cento) e Mali (19).

 

O texto diz que os três principais objetivos -- educação primária universal (EPU), paridade de gênero e qualidade -- vão mal apesar da atenção mundial, por causa da falta de recursos. O objetivo de 2005, de estabelecer a paridade de gênero no ensino básico e intermediário, não foi cumprido por 94 países. Além disso, 67 nações não devem conseguir dar educação primária universal até 2015. A Ásia, os países árabes e a África sub-Saariana são as áreas onde esses objetivos estão mais distantes de serem atingidos, segundo o relatório.

 

Em todo o mundo, mais de 132 milhões de pessoas com idades entre 15 e 24 anos são analfabetos funcionais. "Embora haja um crescente apoio à EPU, a alfabetização não está no alto da agenda dos doadores bilaterais", disse o relatório. "Poucos doadores bilaterais e bancos de desenvolvimento fazem referência explícita à alfabetização em suas políticas de ajuda." O estudo propõe novos esforços para chegar à EPU, a reafirmação da meta de paridade de gênero, gastos públicos maiores e mais eficientes, maior foco na alfabetização de adultos e jovens, duplicação dos gastos na ajuda à educação e que os países em piores situação sejam tratados como prioridade.