O Estado de São Paulo, 05/06/2003 - São Paulo SP

Alunos paulistas vão alfabetizar 700 mil até 2006

Projeto estadual contra analfabetismo vai valer como atividade prática no currículo de universidades

Marcos de Moura e Souza

 

Os planos do governo federal de erradicar o analfabetismo no País estão ganhando um empurrão de universidades privadas e do governo do Estado de São Paulo. Alunos de universidades paulistas começam já este mês a atuar como alfabetizadores com a ajuda de livros e treinamento oferecidos pela Secretaria do Estado de Educação. A meta é alfabetizar 700 mil pessoas até 2006. No Estado, 6,6% da população (1,8 milhões de pessoas) é analfabeta. No Brasil, são 16,3 milhões (13,6%).

 

Até agora, 108 universidades aderiram ao projeto, que será lançado hoje. A Universidade Estadual Paulista (Unesp) é, por enquanto, a única pública na lista. Os alfabetizadores serão preferencialmente os alunos de cursos de licenciatura (que formam professores de português, história, geografia etc.). Durante o curso, eles têm de cumprir 400 horas de prática pedagógica   profissional. Com o projeto, a atividade de alfabetização valerá como horas de prática. "É juntar a fome com a vontade de comer. O licenciando estará cumprindo uma função social e ao mesmo tempo preenchendo a carga horária necessária", diz o assessor educacional do Sindicato Estadual dos Mantenedores do Ensino Superior (Semesp), Roney Signorini. A expectativa da entidade é de que a maioria dos alunos cumpra sua prática profissional como alfabetizador.

  

Lição - O chamado Programa de Alfabetização e Inclusão (PAI) atenderá pessoas como Antonia Maria da Silva, de 33 anos. Ela está aprendendo a ler e a escrever em Diadema, na Grande São Paulo, na escola estadual onde estuda um de seus três filhos, graças à iniciativa voluntária das professoras. "Ficava chateada todas as vezes que meus filhos pediam ajuda nas lições de casa." A Secretaria de Educação prevê investir R$ 9,8 milhões no projeto até 2006. O Estado já gasta anualmente cerca de R$ 4,5 milhões subsidiando programas de alfabetização como os de organizações não-governamentais. As aulas do PAI serão dadas nas próprias universidades e faculdades. "As pessoas vão poder dizer que estão sendo alfabetizadas numa universidade", diz o secretário de Educação, Gabriel Chalita. "Isso tem um peso sobre a auto-estima, estimula as pessoas." A carga horária mínima será de 200 horas (ou o equivalente a um ano letivo). Cada instituição organizará os horários de aula. Segundo a secretaria, em algumas instituições, as atividades começam já este mês.