Alunos
do ensino médio querem aulas direcionadas para o mercado
12/02/2012
É
o que diz pesquisa que mostra os estudantes de olho na profissionalização
Fazer
um curso profissionalizante antes ou depois das aulas, estudar em uma escola
que proporcione estágio em empresas, sentar em cadeiras mais confortáveis e que
os professores expliquem melhor as matérias. Essas são algumas das principais
expectativas dos alunos de ensino médio da rede estadual, segundo uma pesquisa
feita com quatro mil estudantes, pelo Instituto Mapear, para a Secretaria
estadual de Educação. O estudo mostrou ainda que, apesar das conhecidas mazelas
do ensino público, os estudantes estão sonhando mais alto. Perguntados sobre o
futuro, 66% têm a intenção de cursar uma faculdade, contra 58% da pesquisa de
2008. E a quase totalidade deles (95%) pretende completar o ensino médio. Já
46% dos matriculados planejam fazer um curso técnico ou profissionalizante. Em
2008, eram 34%.
Para
Nilma Fontanive,
coordenadora do Centro de Avaliação da Fundação Cesgranrio,
os alunos estão na direção certa: — Os estudantes estão apontando o caminho
para o fim do ensino enciclopédico. Um curso técnico seria muito mais útil e de
grande valia na hora de entrar no mercado de trabalho. Mesmo com os planos de
continuar estudando, 55% gostariam de começar a trabalhar após a conclusão do
ensino médio. Dahin Germano, de 16 anos, que estuda
no Colégio Estadual Compositor Luiz Carlos da Vila, em Manguinhos,
é um dos que gostariam de entrar na faculdade. Mas ele também quer sair da
escola com uma carreira: — Seria bom ter aulas profissionalizantes, pois já
sairíamos com uma profissão. A escola até oferece cursos e atividades fora do
horário de aula, mas não faço por falta de interesse mesmo — admite Dahin, que aponta os pontos positivos e negativos que vê na
escola. — Todas as salas têm ar-condicionado, mas as cadeiras precisam
melhorar. São desconfortáveis demais. A didática dos professores também precisa
mudar. Sei que o conteúdo das aulas tem que ser cumprido, mas eles correm e
explicam tudo muito rápido.
Rio
tem índice ruim no MEC - Do total dos entrevistados, 67% consideram o ensino
público estadual de qualidade. Para 13%, ele é excelente; enquanto para 54% é
bom e para apenas 4%, ruim. A boa avaliação feita pelos alunos, no entanto,
contrasta com dados divulgados pelo Ministério da Educação (MEC). Em outubro de
2009, o Estado do Rio teve o segundo pior Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica (Ideb) no país: 2,8, ficando atrás apenas do
Piauí. A média nacional foi 3,6. Meses depois, o governador Sérgio Cabral
passou para o secretário estadual de Educação, Wilson Risolia,
a tarefa de colocar o estado entre os cinco primeiros em 2014. Desde então, não
foram divulgados novos dados do Ideb, que é o
resultado da junção dos índices de aprovação com as notas dos alunos em testes
de Português e Matemática. Para Celso Niskier,
educador e presidente do Conselho Empresarial de Educação da Associação
Comercial do Rio, os alunos não sabem avaliar o ensino que recebem:
— A falta de capacidade
crítica faz com que o aluno não perceba se está recebendo realmente a educação
que merece. Eles só vão perceber isso quando tentarem entrar no mercado de
trabalho — observa Niskier, acrescentando que a
escola é vista pelos jovens como um mal necessário. — É preciso fazer algo
urgente para despertar o interesse pela educação. As aulas devem ser mais
prazerosas e atrativas. Para isso, o professor é fundamental. Um mau professor
pode provocar o desinteresse. Atualmente, vejo um profissional que finge que
ensina e um aluno que finge que aprende. Mariana Andrade, de 18 anos, sabe bem
o que é isso. Ela não esconde que já matou algumas aulas porque o professor não
tinha uma boa didática. — As aulas tinham que ser mais realistas. Eu não sei
para que aprender um monte de fórmulas de operações matemáticas. Queria saber
como usar isso no dia a dia. Alguns professores só leem um texto e passam o
exercício sem explicar nada. Isso faz com que a gente perca o interesse pela
escola — diz ela, que também estuda no colégio Compositor Luiz Carlos da Vila.
Ainda de acordo com a pesquisa, 85% dos alunos estariam dispostos a cursar o
ensino médio integrado (com curso de capacitação profissional). Atualmente, o
Rio possui apenas oito escolas com cursos profissionalizantes. Segundo a
Secretaria estadual de Educação, a meta é ampliar a oferta e ter cinco mil
alunos cursando este segmento.
A
pesquisa revela que dois cursos atraem mais de 20% dos alunos de todas as
regiões: o de Montagem e Manutenção de Computadores e o de Administração. Um
pouco abaixo da preferência, mas ainda com índices superiores a 20% na capital
e na periferia, destacam-se os cursos de Técnico em Enfermagem e de Turismo e
Hotelaria. Também aluna do colégio Compositor Luiz Carlos da Vila, Camila
Emília, de 17 anos, ainda não sabe qual carreira seguir. Como tem aptidão em
informática, acha que um curso técnico nessa área iria despertar seu interesse
pelas aulas: — Sei que vai ser difícil entrar em uma universidade pública.
Terminando o ensino médio com uma profissão já é meio caminho para fazer uma
particular — conta a aluna, que destaca um ponto negativo na escola. — O almoço
é ao meio-dia. Como entro às 13h, até as 17h40m não como mais nada. As aulas já
são chatas e com a barriga vazia fica pior ainda — reclama. O levantamento
mostrou ainda que o nível de escolaridade dos pais dos alunos da rede aumentou:
10% dos pais têm ensino superior, contra 6% em 2008. Também aumentou o índice
dos que completaram o ensino médio: 38% das mães e 35% dos pais.
O Globo - Rio de Janeiro RJ