Alunos dão nota 7,1 para ensino médio
Folha de São Paulo, 11/06/2008 - São Paulo SP
ANTÔNIO GOIS DA SUCURSAL DO RIO
Apesar de avaliações oficiais apontarem baixo desempenho dos estudantes, eles aprovam a educação recebida dos colégios. Um dos poucos itens com avaliação mais crítica é a preparação para o mercado, que não foi adequada para 52% dos que já trabalhavam.
Apesar das várias avaliações que mostram que o ensino médio está muito aquém do desejado, os alunos, ao analisarem a formação que receberam, têm outro diagnóstico. No questionário socioeconômico que responderam no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) do ano passado, eles deram para seus colégios nota média 7,1. Essa boa avaliação varia pouco conforme o desempenho do aluno. Entre os que foram mal no exame, a média é de 7,2; entre aqueles que foram bem, ela fica em 7,1. A análise das condições de oferta do ensino e do corpo docente também são positivas na maioria dos quesitos.
Mercado de trabalho - Um dos poucos itens em que ela é mais crítica é a preparação para o mercado de trabalho. Para 52% dos estudantes que já trabalhavam, os conhecimentos que eles adquiriram no ensino médio não eram adequados ao que o mercado solicitava. Um percentual ainda maior (73%) afirmou que o que aprendeu não tem relação com a profissão exercida. A boa avaliação que os estudantes fazem de sua formação destoa do diagnóstico em levantamentos oficiais. No Saeb (exame do MEC que avalia a qualidade), por exemplo, as médias dos alunos do terceiro ano do ensino médio em português e matemática chegaram, em 2005 (último ano com resultados já divulgados), ao menor nível desde 1995. No Pisa (exame internacional que comprara o desempenho de alunos de 15 anos em ciências, matemática e leitura), o Brasil ficou nas últimas posições quando comparado com 57 países. Para o presidente do Inep (instituto de avaliação e pesquisa do MEC), Reynaldo Fernandes, a tendência de avaliar positivamente o ensino não acontece só no Brasil. "No mundo inteiro, a avaliação dos pais ou dos alunos tende a ser positiva. Nos EUA, por exemplo, mesmo em escolas mal avaliadas, os pais tendem a ser mais condescendentes. No Brasil, outras pesquisas também já demonstraram isso."
Expectativa - Fernandes diz que a avaliação que o aluno faz é influenciada sempre pela expectativa que tem da escola. "Alunos mais bem preparados tendem a ser mais exigentes. Uma escola com fama de ser muito boa cria alta expectativa e nem sempre ele considera que é tudo aquilo que esperava." Um exemplo de bom aluno com avaliação rigorosa da escola é Eduardo Yuji Hore, 21, que tirou nota máxima na redação e errou uma questão da prova objetiva. Ele fez, no ano passado, o exame pela terceira vez. Na primeira, só para treinar. Na segunda, para ajudar a ingressar no curso de engenharia ambiental da Unesp. Na última, para ingressar em ciências sociais na USP.
Hore afirma que, hoje, daria apenas nota 4 para o colégio onde estudou -o Etapa. "Depois que troquei o curso de engenharia ambiental pelo de ciências sociais, percebi que a formação humanística que recebi deixou muito a desejar. Meu colégio se preocupou muito com a preparação para o vestibular, mas deixou de lado a formação cultural." Nem todos os melhores do Enem, porém, são tão críticos assim. Luísa Lima Castro, 18, que tirou nota máxima na redação e na prova objetiva, deu nota 9 ao Cefet de Belo Horizonte. "Só não dou 10 porque teve um ou outro professor que deixou a desejar. Mas, pelo que vejo, a maioria das escolas públicas de ensino médio não tem o investimento que a gente percebe no Cefet. É uma escola bem cuidada e com professores com disposição para dar aula."