Alfabetização de pescadores em debate na Bahia

05/04/2006 15h50

 

A coordenação do projeto-piloto de alfabetização de pescadores Saberes das Águas, feita pela Universidade do Estado da Bahia (Uneb), realiza reunião de avaliação e oficinas com os 14 coordenadores na quinta-feira, 6, e sexta-feira, 7, no município de Barra (BA). O Saberes das Águas é executado pela Uneb com recursos do programa Brasil Alfabetizado/MEC, da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (Seap) e da Agência Espanhola de Cooperação Internacional (Aeci).

 

O piloto de alfabetização de pescadores na Bahia iniciou em novembro de 2005 e será concluído em junho deste ano. São três mil pescadores em 145 turmas de quatro municípios às margens do rio São Francisco (Xique-Xique, Barra, Pilão Arcado e Remanso). O maior número de turmas, 78, está em Xique-Xique, município formado por 48 ilhas e onde a pesca constitui a principal atividade econômica. Segundo o coordenador do projeto da Uneb, João Rocha, a alfabetização de pescadores na Bahia testa um novo formato de curso e materiais didáticos específicos para a realidade local.

 

Etapas – A primeira fase do curso (de novembro de 2005 a fevereiro de 2006) foi intensiva, para aproveitar o período do defeso (época de reprodução dos peixes); e a segunda, de março a junho deste ano, tem calendários diferenciados feitos pelas comunidades segundo o tempo que os pescadores dispõe para estudar. João Rocha diz que na etapa atual há turmas com aulas aos sábados e domingos e outras todos os dias da semana.

 

Os pescadores de Xique-Xique, que ficam direto até quatro dias no rio, têm aulas aos sábados, domingos e segundas-feiras; já os de Barra, próximos do rio, têm aulas durante a semana. A outra diferença do projeto está nos materiais didáticos confeccionados pelo Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias da Uneb. A abordagem dos conteúdos leva em conta o cotidiano do pescador: o rio, o tempo, as fases da lua, o meio ambiente, a confecção de redes, a comercialização dos peixes, o defeso.

 

Na avaliação de João Rocha, o interesse dos pescadores nas aulas se deve ao formato do curso e o apelo à realidade de domínio das comunidades da pesca do rio São Francisco. “A maioria tem interesse em continuar os estudos em programas de educação de jovens e adultos, desde que mantida a linguagem do piloto e a flexibilidade que o trabalho deles exige”, explica.

 

Para o diretor do Departamento de Educação de Jovens e Adultos do MEC, Timothy Ireland, a proposta do ministério é oferecer aos pescadores, a partir de julho, a educação básica integrada à educação profissional em turmas de EJA. A experiência com a alfabetização deverá ser repetida na Bahia e em outros estados com comunidades de pescadores. Para executar o projeto e receber recursos do MEC, diz Timothy, é preciso a adesão das prefeituras. Contam mais pontos aquelas que oferecem educação de jovens e adultos em seus sistemas.

Dificuldades – Entre as dificuldades da Uneb no aprendizado dos pescadores, estão o problema da baixa visão e a deficiência na formação dos alfabetizadores. Para a baixa visão, afirma Timothy Ireland, o MEC discute com o Ministério da Saúde um programa que atenda à necessidade dos jovens e adultos em processo de alfabetização e em turmas de EJA. “O problema da visão constitui a causa principal da evasão nas turmas de EJA.”

 

Já na formação dos alfabetizadores, o programa Brasil Alfabetizado indica o mínimo de 60 horas, das quais 30 horas iniciais e 30 horas de formação continuada. Segundo Timothy, os parceiros devem oferecer o máximo de formação, especialmente para os alfabetizadores que não têm o ensino médio completo ou experiência na educação de jovens e adultos. A Uneb, diz João Rocha, já ofereceu 80 horas de formação e ainda não conseguiu suprir as dificuldades de muitos alfabetizadores, a maioria da própria comunidade de pescadores.

 

Repórter: Ionice Lorenzoni

 

FONTE: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=content&task=view&id=4612&FlagNoticias=1&Itemid=4755