Estado de Minas, 18/09/2003 - Belo
Horizonte MG
Alfabetização de adultos: Uma segunda
chance para entrar no mundo das letras
Projetos oficiais ou da iniciativa privada dão a trabalhadores nova
oportunidade de alfabetização. Métodos como o do educador Paulo Freire
funcionam como aliados
Ana Paula Franco O pedreiro Aguinaldo Pereira dos Santos, de 30 anos, nunca havia tido a oportunidade de estudar. A chance veio um pouco mais tarde que o ideal, mas nem por isso foi recebida com menos entusiasmo. Após conseguir, por meio da construtora onde trabalha, oportunidade para freqüentar uma sala de aula, ele está no início do curso e já se orgulha de conhecer as letras e estar aprendendo a formar palavras. "Pensei que nunca conseguiria ler um livro na vida. Agora, sei que é possível e não vou mais me sentir inferior aos outros", afirma. Iniciativas de órgãos públicos, instituições e empresas vêm contribuindo para a alfabetizar e resgatar a cidadania de jovens e adultos que tiveram pouco ou nenhum contato com a escola. Um exemplo é o Programa de Alfabetização de Adultos, desenvolvido em parceria com o Sesiminas, Serviço Social da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Seconci) e o Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon- MG). Graças a ele, trabalhadores do setor podem assistir às aulas em salas montadas no próprio canteiro de obras ou na sede do Seconci. O programa tem o objetivo de, além de melhorar a qualidade e produtividade do empregado, estimular o interesse pelo estudo. "As construtoras contratam pessoas sem nenhuma escolaridade, desde que elas assumam o compromisso de freqüentar as aulas", explica a assistente social Sylvia Helena Costa, responsável pelo projeto.
O curso tem duração média de dois anos e é reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC). A professora Ângela Nogueira, que trabalha há três anos no projeto, afirma ser gratificante ver o aluno que não sabia sequer pegar no lápis descobrir o traçado e se sentir interessado pelos livros. "Procuro sempre estimular o aprendizado de diversas formas para despertar o interesse. Sempre levo meus alunos para exposições, teatros e feiras para que eles se sintam reintegrados à sociedade", diz, acrescentando que o processo demanda um trabalho de resgate da auto-estima dos alunos. O papel do educador é fundamental para o sucesso da aprendizagem e para que o aluno se sinta estimulado a continuar. A professora da PUC-Minas Neiva Costa Toneli, responsável pelo programa Alfabetização Solidária em Minas Gerais e no Nordeste do País, destaca que o mais importante na alfabetização de jovens e adultos é a escolha do tema na apresentação das aulas. "Está aí a grande contribuição do método Paulo Freire: a não infantilização dos adultos. É preciso trabalhar assuntos relacionados ao cotidiano do aluno e, mais tarde, ampliar." Ela afirma que o alfabetizador deve discutir na sala temas atuais, com função social, para, dessa forma, contribuir para a formação do aluno como ser humano. A professora lembra que cabe ao educador, também, dividir a turma de acordo com a idade e interesses. "O professor deve formar grupos divididos entre jovens, adultos e idosos. O objetivo, depois de alfabetizar, é fazer com que o aluno sinta-se empenhado em continuar e concluir os estudos", enfatiza.