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Aprendiz, 02/06/2006
As notas médias dos alunos de
Educação de Jovens e Adultos (EJA), o antigo supletivo, no Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem) estão próximas das piores obtidas
pelos estudantes do ensino regular. Os alunos de EJA do País tiveram média de
35,75 - numa escala de 0 a 100 - na prova realizada no ano passado por quase 3
milhões de pessoas. São quase nove pontos de diferença em relação às médias de
quem estuda no ensino médio comum. A EJA começou a ganhar importância no País
recentemente; a ajuda federal a esse nível de ensino se restringia a Estados do
Nordeste até pouco tempo. São mais de 4 milhões de alunos hoje, mas nem todos
participam do Enem já que a prova não é obrigatória.
A EJA oferece ensino fundamental e médio em menos tempo para adultos e é
essencial para assegurar que as pessoas alfabetizadas tardiamente não voltem a
ser analfabetas. O País têm 16 milhões de analfabetos.
"São pessoas que não
acreditavam mais na escola, estavam desmotivadas, mas acabaram voltando. As
adversidades são maiores", diz, sobre os alunos de EJA, o responsável pela
área no Ministério da Educação (MEC), Ricardo Henriques. Para ele, a diferença
nas notas não é tão expressiva, levando em conta o perfil do público. Mas, na
comparação com os resultados do ensino regular divulgadas pelo MEC em
fevereiro, nota-se que as piores escolas públicas de capitais como
Florianópolis e Vitória têm notas melhores que a média de EJA.
Segundo o presidente do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais do MEC (Inep),
que realiza o Enem, Reynaldo Fernandes, percebe-se
também que não há grande diferença entre o aluno de EJA pública e de EJA
particular, como ocorre no ensino médio comum. As particulares têm média de 40
pontos, enquanto as públicas ficaram com 35,51. Já a diferença no ensino
regular é de 16,22 pontos a mais para as particulares. "A EJA privada
muitas vezes acaba sendo uma facilitação não desejada do ensino, com cursos de
poucos meses", diz a especialista em EJA e coordenadora da ONG Ação
Educativa, Vera Massagão. Em São Paulo, são comuns
supletivos que oferecem ensino médio e fundamental em apenas um ano. No ensino
público, no entanto, há mais controle e exigência mínima de dois anos para
cursar da 5ª à 8ª série e mais um ano e meio para as três séries do ensino
médio.
Vera acredita que as médias mais
baixas dos alunos de EJA refletem o perfil do público, mais excluído e mais
pobre. Além disso, eles convivem com os problemas do ensino noturno nas escolas
- a EJA só funciona nesse período - em que há mais falta de professores,
bibliotecas fechadas e menos tempo de aula. "O ideal seria que essa metade
de tempo não significasse metade de qualidade", diz Vera. Para ela, a
educação para adultos deveria ser focada em competências da vida, incentivo a
pesquisas, à leitura e ao uso do raciocínio.
O Enem é
considerado um exame inovador no País por não avaliar conteúdo e medir
justamente competências e habilidades do formando de ensino médio. As questões
são baseadas em situações-problema, com foco no cotidiano do aluno. Apesar das
notas baixas, os resultados mostram que 236 das cerca de 4 mil escolas de EJA
que participaram da prova se saíram melhor que a média das escolas públicas.
Além disso, o desempenho dos estudantes de EJA não baixou muito as notas gerais
das escolas, como se pensou quando foram divulgados os rankings
do Enem, em fevereiro. O próprio conselho dos
secretários de Educação chegou a divulgar nota com essa reclamação. Agora, com
a separação das notas, é possível perceber que a média geral dos estudantes
brasileiros, se não fossem considerados os de EJA, seria de 44,66. Com EJA,
fica em 43,93. Isso ocorre porque bem menos alunos dessa modalidade de ensino
fizeram a prova.
A melhor escola de EJA do País é
de Natal (ver texto ao lado). Na lista das dez mais conceituadas há cinco do
Rio, uma de Minas, uma de Santa Catarina, uma da Bahia e uma de São Paulo. A
escola paulista é a única pública entre as melhores, fica em Campinas, mas sua
classe de EJA deixou de funcionar neste ano por falta de demanda. Entre as dez
maiores notas da capital, o ensino público se destaca: sete são escolas
estaduais. "A EJA antes era marginalizada, hoje se faz um trabalho
específico para esse público, levando em conta suas experiências", diz a
responsável por EJA na Secretaria Estadual de Educação, Huguette
Theodoro da Silva.